Souto Moura sem tabus

Tabu, a revista do Sol, traz uma curiosa entrevista com Souto Moura. O arquitecto que projectou o estádio de Braga descreve como se conluiou com a Câmara para receber uns dinheiros que o Tribunal de Contas havia chumbado por não estarem incluídos no acordo inicial (e terem ultrapassado os limites que a lei permite). Conta o arquitecto, sem especificar se se aconselhou com alguém próximo para ir por este caminho:

Sol — (…) colocou a autarquia em tribunal?
Arq. Souto Moura — Foi em comum acordo com a Câmara de Braga, porque não havia outra forma de receber o dinheiro. (…) o Tribunal de Contas não liberta esse dinheiro e entrámos em diferendo. Já estou a fazer outro projecto, se as relações fossem más não me davam mais trabalho.
Sol — Então não houve um corte de relações?
Arq. Souto Moura — Não. Na câmara dizem: ‘Eu gosto do seu trabalho, nem é dos mais caros, gostava que fizesse isto. O resto é um problema burocrático’. (…)

Preto no branco: Souto Moura e a Câmara decidem, de comum acordo, recorrer ao tribunal para obter um acórdão que permita ultrapassar as “burocracias”. É legítimo perguntar quem defende o interesse público, quem defende os dinheiros de todos nós? Que é feito do Ministério Público?

PS — A polémica causada por um projecto do Governo sobre mediação é incompreensível. A mediação já existe e a história contada de viva voz pelo Arq. Souto Moura comprova-o. Com uma particularidade curiosa: apesar de a mediação ser tradicionalmente extrajudicial, as partes escolheram o tribunal para a efectuar. Os contribuintes pagam. E o Sol, que tem ricas fontes no Ministério Público, não é lido por nenhum procurador.