segunda-feira, janeiro 01, 2007

Relativamente absoluto





Bento XVI dirigiu ao mundo, nesta passagem do ano, uma mensagem em que defende o valor da pessoa humana. Ratzinger, doutor em filosofia e responsável pela orientação ética anti-relativista da Igreja Católica, condenou os atentados contra a vida humana, incluindo os ataques terroristas e os ataques a populações indefesas em acções de guerra.

Nada disto é criticável. Pelo contrário, o filósofo Ratzinger merece aplauso. A voz do papa é sempre uma voz autorizada e Bento XVI não constitui excepção. Certamente não tem a espessura humana do seu antecessor, mas a sua posição institucional e até a sua cultura permitem-lhe pronunciar-se com autoridade sobre causas tão relevantes.

O calcanhar de Aquiles do papa é, em primeiro lugar, humano. O tempo apaga tudo e o próprio Paulo deixou de perseguir cristãos depois de ter visto Deus na estrada de Damasco. Também Bento XVI perseguiu filhos de Deus antes da sua estrada de Damasco. É impossível esquecer que o jovem Ratzinger pertenceu às Juventudes Hitlerianas durante o III Reich, as quais tinham como princípio doutrinário e de acção a distinção entre Untermenschen (seres inferiores) e arianos.

Talvez não faça sentido censurar um homem com a idade do papa por aquilo em que ele acreditou ou que fez em jovem. Mas, mais recentemente, o curriculum de Ratzinger não tem só elementos positivos. Como responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé, dedicou-se eficazmente a perseguir os teólogos dissidentes, incluindo aqueles que valorizam a ideia de libertação dos povos e que dedicam o seu apostolado aos pobres.

Especificamente no plano doutrinário, diz-se que Ratzinger foi o grande ideólogo de João Paulo II. Talvez tenha sido o autor da Veritatis Splendor e talvez tenha contribuído decisivamente para o Novo Catecismo, publicado no pontificado de João Paulo II, a que já aqui me referi, por se mostrar tão implacável a condenar o aborto e tão contemporizador com a pena de morte.

A homilia de Bento XVI no Dia Mundial da Paz padece do mesmo mal. O papa compara o aborto e as pesquisas em embriões ao terrorismo.

Alguma semelhança terão todas as condutas humanas, incluindo as condutas censuradas pela moral. Mas esta comparação de Bento XVI é, no mínimo, de mau gosto. Comparar uma mulher grávida que toma a pílula do dia seguinte (matando já um óvulo fecundado) ou que aborta (até na sequência de uma violação, como já se permite na lei portuguesa, mas que o papa considera inadmissível) com o assassinato de pessoas inocentes, praticado por terroristas, é paradoxalmente uma forma de desculpabilizar os próprios terroristas.

Com Bento XVI, o absolutismo moral, de tão cego e dogmático, desagua num estranho relativismo. O papa faz como aqueles padres antigos que tratavam as mulheres divorciadas que voltavam a casar (ou que viviam em união de facto) como prostitutas!

A insensatez e a injustiça sempre caminharam de mão dada. Depois do episódio de Ratisbona, Bento XVI reincide, dando provas de que a sensatez não é o seu ponto forte.

11 comentários :

Anónimo disse...

Miguel desta vez subscrevo esta posta. Do princípio ao fim.

Anónimo disse...

Os discursos de Bento XVI estão a ser fundamentalistas.

Porque o Vaticano não toma medidas efectivas para que deixe de haver crianças mortas pela fome, doença e guerra?
Basta ver algumas imagens que corajosos jornalistas gravam,para sabermos que é urgente.
Bento XVI, preocupa-se com celulas embrionárias mas não faz nada pelas crianças já nascidas e não são óvulos fecundados.

Não sei para onde quer nos levar este papa!

Anónimo disse...

Para não responder às questões levantadas pelo post anterior o Miguel ataca a fundamentalismo do Papa.

Será que o fundamentalismo de avental-rosa-alegre do Miguel é melhor?

Cleopatra disse...

Não faço comentários.
Afirmações sim:
Este Papa não me é sim´pático e aponto apenas uma razão, apenas uma porque tenho muitas mais!
É que acho que Lombroso tinha razão!
Fico-me por aqui.
Lamento!

Anónimo disse...

COMO MULHER,E COMO SER HUMANO FIQUEI CHOCADA COM O DISCURSO DO PAPA SOBRE O ABORTO.
TEMO PELAS CONSEQUÊNCIAS QUE PODE ADVIR NO FUTURO DE TEMOS UM PAPA DESTES. O MUNDO NÃO PODE FICAR MELHOR.....
G.

Portas e Travessas.sa disse...

Esta posta do Miguel esta carregada de evidencias, superiormente sublimadas pelo texto.

Ora, o que falta sublimar, não só fez parte das tropas de elite desse assassino - Hitler - como depois se refugiou num convento, na custodia do seu irmão, ali se fez sacerdote.

O julgamento de Nuremberg, deixou muitos criminosos á solta, estes sim, criminosos de homens, mulheres e crianças.

Como alguem dizia - a historia não se apaga - a ICAR tem aquilo que sempre foi, uma alcateia de criminosos ao longo da sua historia.

Quando visito alguns simbolos catolicos, medito, o que leva esta gente a ser tão hipocrita, mentirosa e criminosa.

Há poucos dias, celebrou-se os 250 anos da inquisição,lá fui, á Igreja da Barros Queiroz meditar, interrogar-me, - o que levou esta gente a mandar para as pilhas de madeira a arder, milhares de pessoas, - por terem sido elas a causa do terramoto de Lisboa?

Mas, cuidado, a ICAR cresce e rebusteze-se, a intifada da OPUS anda por aí. - A Isabel, a catolica, anda á solta, resta saber se anda de calças ou de saiote

Miguel Abrantes disse...

Caro Fernando (Ter Jan 02, 11:38:44 AM):

Essa sua capacidade delirante para ver conspirações ao dobrar de cada esquina ainda acaba por dar mau resultado. Desça à Terra, respire fundo e veja como está um lindo dia de Sol. Não acha que anda a ver fantasmas onde eles não esxistem?

Quanto às "distracções" que me levam a não ver a "contradição" entre defender o direito à interrupção voluntária da gravidez e opor-me à pena de morte, farei mais uma tentativa para que perceba o que está em causa. Mais ao fim da tardinha, num ecrã perto de si, mais um post sobre o assunto.

Um bom ano para si.

Anónimo disse...

Eu meu nome (e em nome do Fernando) agradeço a resposta, caro Miguel. Por acaso o e-mail do Fernando já chegou, para que lhe responda directamente?

Cá fico à espera da explicação - mas desta vez não fale de óvulo fecundado mas sim de um feto de 10 semanas...

Anónimo disse...

Ter Jan 02, 05:29:06 PM

Qual será a posição destes anónimos que questionam inquisitorialmente o paciente Miguel mas nunca dizem o que pensam? Não pensam?

Anónimo disse...

Excelente análise.

Portas e Travessas.sa disse...

Pela editora Centauro, colocou no mercado o livro do Adolfo Hitler "a minha luta" - tese pela qual foi eleito - na FNAC podem lê-lo á borla - na pagina 316 e seguintes pode-se ler.:

"o 1º dever de um estado nacionalista , é evitar que o casamento continue a ser uma constante vergnhosa para a raça e consagra-la como uma instituição destinada a reproduzir á imagem de deus e não criaturas monstruosas meio homens meio macacos"

Mais adiante escreve sobre o apuramento da raça iraniana,

Ora, o Ratzinger serviu com o posto de oficial este regime, regime que negava aos bebes a esperança de vida, caso não obdece-se ao tal apuramento da raça.

É esse senhor que vem dar lições de moral?