sábado, agosto 25, 2007

Eduardo Prado Coelho




O meio cultural português, já muito limitado, ficou mais pobre. Morreu hoje Eduardo Prado Coelho, homem de cultura e de gosto variado — da literatura ao cinema, com incursões pelo mundo da moda, falou e escreveu com manifesto bom gosto e constante espírito de tolerância. Fica o seu exemplo e ficam os seus múltiplos escritos: da crónica de jornal à crítica de cinema, do ensaio literário à ficção.

As crónicas escritas para o Público, nos últimos anos, por Eduardo Prado Coelho estão disponíveis aqui.

4 comentários :

pedro oliveira disse...

Não deixa de ser irónico:
«aprimorei a minha capacidade de fazer camas» [retirado da última crónica].
Quem boa cama faz, nela se há-de deitar ... descanse em paz.

Anónimo disse...

Algo que encontrei sobre Eduardo Prado Coelho noutro blog e que transcrevo para aqui, apesar de ser pouco abonatório para o finado e a sua memória.

Sem qualquer intuito de desmancha-prazeres, gostaria de dar oportunidade ao contraditório:

"Há duas partes neste epitáfio, e a primeira cessa já nesta primeira linha: um pouco daquela piedade genérica que se sente por qualquer ser vivo, que possa ter morrido em sofrimento...
Eduardo Prado Coelho representa aquilo que de mais negativo emergiu na Cultura Portuguesa do Pós-Revolução.
Com um ego do tamanho do seu pequeno mundo, começou por se notabilizar como andarilho do "Expresso", utilizando o célebre princípio crítico de "o que eu gosto é bom e existe; aquilo de não gosto, nem sequer é bom ou mau, porque nem sequer existe".
A devastação cultural por ele provocada não tem limites, e ainda hoje continua a revelar todas as suas sequelas. Lembro-me de uma conversa havida no Grande Saguão da Fundação Gulbenkian, em que um, da Velha Guarda, me dizia, "Prado Coelho!?... Sim, conheci o avô e o pai, mas não sabia que havia um neto..."
Havia, sim, e foi talvez, nos meus verdes anos, que, pela primeira vez, percebi como uma pessoa não-existente podia gerar tantos estragos... Como, na altura, o "Expresso" era o único Órgão de Comunicação impressa que se podia vangloriar de valores olímpicos, o cavalheiro tratou logo de aplicar torneiras adequadas nos sectores considerados... perigosos: nas Artes, imperava Alexandre Melo, uma das figuras mais venais e medíocres da Contemporaneidade Portuguesa, conhecido, nas Galerias de Arte, pelo "penetra", já que se sentava nas mesas de convidados dos artistas, dos jantares pós-"vernissages", como se tivesse sido convidado...
O dono da extinta "Galeria Leo" é que sabia a história toda: vão lá, defronte do "Restaurante Bota-Alta", onde tem agora um espaço de artigos etnográficos, e perguntem-lhe como funcionava a coisa...
Para Alexandre Melo, o importador de todos os sub-produtos da merda artística americana, o projecto e os meios eram simples: como o "Expresso" era dos poucos sítios que se podia gabar de Crítica de Arte avalizada, o Melo, mais os seus colegas, o sinistro Pinharanda, e o fraquíssimo Alexandre Pomar, distinguiam, "ad-libitum", os artistas dos não-artistas, os criticáveis dos indignos de linhas de crítica, ou, mesmo, de um decurso de exposição: os artistas eram os que expunham nas galerias que lhes eram favoráveis; os não-artistas eram os que não existiam, porque expunham nas galerias que, para eles, não existiam...
Elementar, meu caro Watson.
Outra apaniguada, Clara Ferreira Alves, aplicava o mesmo método à Literatura: havia os autores que iam, ou já tinham ido, com ela para... --- cala-te boca... -- versão 2: havia os escritores que existiam, porque publicavam em editoras que existiam, e os autores que não existiam, porque as editoras, onde publicavam, também... não existiam.
Tudo isto são pequenos, brevíssimos, retalhos da acção cultural de Eduardo Prado Coelho, o Átila do Pós-Modernismo Português, por uns considerado a "Almôndega Semiótica", por outros -- outras, suponho... -- "um dos homens mais sensuais de Lisboa" (só escrevi esta frase agora, porque ainda não almocei, e não me arrisco ao vómito. Também tenho de cuidar da minha saúde...).
Suponho que a sua melhor obra publicada sejam as Cartas com o D. José Policarpo (tivémos sorte de não serem as com a Irmã Lúcia...)
Na verdade, o Pós-Modernismo, a devastação do espaço mental, literário, pictórico, escultórico e tudo o que queiram mais, Português, teve sempre a sua mãozinha sapuda enfiada. Como dizia o iluminista Abade Correia da Serra, "Dentro de cada português, mas dos puros, vibra a alma d'um familiar do Santo Ofício. A Nação não presta", e Prado Coelho era disso tudo um exemplo.
Quando o "Expresso", um dia, acordou, fez uma cisão e levou os cangalhos todos atrás, para fundar o "Público", onde ainda, em teoria, poderia brilhar mais, como o seu inviolável Coio dos Coios.
O Portugal, de hoje, continua infestado pelos seus epígonos, gente que usa os mesmos métodos, mas que já lhes desconhece -- autómatos -- o "Coeur" e a Matriz Ideológica subjacentes...
O resto são trocos, eventualmente testemunhos humanos mais pungentes, mas aqui ficam: como tinha sido professor da Meninha, falámos um dia, sobre ela, encostados às estantes da Livraria Buchholz, e, por cada frase que ele lançava, o meu barómetro interior só indicava aquela sinistra sopa de pedra que, em todos os tempos da História, foi a Mediocridade batida-em-castelo com um Ego Hipertrofiado...
Em outro tempo, mais recente, já no Grande Átrio do Palácio Gulbenkian, em Paris, lembro-me de Costa Camelo, um ancião, se vir agarrar a mim, a chorar, e a dizer "não imagina o mal que essa corja me tem feito..."
Imagino.
O meu amigo Manuel Cargaleiro, por exemplo, cansou-se de tal modo deste estado de coisas que emigrou, primeiro, para Paris, depois, para o Japão, e, mais recentemente, para a Itália, onde é reconhecidíssimo, como grande pintor e ceramista que é.
Agora, vem o Gran Finale, e podem apagar da vossa cabeça tudo o que escrevi para trás: a verdade é que, com a morte de Eduardo Prado Coelho, a Cultura Portuguesa fica infinitamente mais... rica.

Publicada por Arrebenta em 14:59

Etiquetas: Ciganização da Cultura Portuguesa, Décadas de Deserto, Eduardo Prado Coelho, Pré-Berardismo, Um Ego do tamanho do seu pequeno mundo"...

Menina Marota disse...

R.I.P.

Vão-me fazer falta as suas crónicas...

Um abraço

Anónimo disse...

Um abraço ao finado, sepultado ao 1º dia, vai ser um tudo nada dificil...