sábado, outubro 13, 2007

Um historiador que não se atrapalha com a realidade [3]




Continuando a reproduzir Valerá a pena desmenti-los? de Arons de Carvalho:

    «De qualquer forma, nem PSD nem CDS parecem muito convictos. Nem sequer submetem a proposta a votação, ao contrário do que sucedera com muitas outras matérias consideradas fundamentais.

    Cronologicamente, os passos seguintes têm a ver com a atribuição de um canal à Igreja Católica.

    A ideia foi lançada pela própria Igreja, em requerimentos dirigidos ao Governo, em 29 de Dezembro de 1980 e 6 de Abril de 1981. A AD acolhe-a na campanha eleitoral em 1980, mas volta sintomaticamente a esquecê-la nos programas dos governos de Sá Carneiro e de Pinto Balsemão.

    Mesmo assim, em Janeiro de 1982, este último Governo retoma a ideia através de uma proposta de lei, mas o entusiasmo não foi excessivo: mesmo com maioria absoluta na Assembleia da República, ela não seria agendada para debate e votação.

    Apenas em Fevereiro de 1986, uma segunda versão do mesmo texto é debatida no hemiciclo.

    A iniciativa concretiza uma promessa do Programa do X Governo, liderado por Cavaco Silva, curiosamente a primeira vez que um executivo do PSD inclui esse objectivo num Programa de Governo.

    A proposta não é todavia aprovada pela Assembleia da República. Por iniciativa do PRD, aceite pelo PSD, os deputados criam uma comissão eventual, que durante meses ouve especialistas e interessados na televisão privada.

    A revisão constitucional de 1988-89 permitiria a televisão privada.

    A evolução do PS nesta matéria não é muito diferente da do PSD. Durante anos, o PS considerou que o monopólio estatal era preferível à presença de “grupos económicos poderosos num meio tão influente como a televisão”.

    A viragem dá-se em 1985. No debate parlamentar sobre a concessão de um canal à Igreja, nomeadamente Raúl Junqueiro e Jorge Lacão admitem a possibilidade de se conceder a exploração de um canal à iniciativa privada. Seria a forma de ultrapassar a rigidez do texto constitucional.

    Pouco tempo depois, ainda em 85, o Programa de Governo com que o PS de Vítor Constâncio se apresenta ás eleições legislativas oficializa essa viragem ao propôr-se “eliminar o impedimento constitucional ao acesso á actividade de radiotelevisão por parte do sector cooperativo ou privado”.

    O PSD não pode pois vangloriar-se de um passado liberal nesta matéria, como aliás não tem legitimidade para assumir o monopólio da abertura.

    Volto aos factos.

    Depois da revisão constitucional, o primeiro projecto de lei sobre a televisão privada foi apresentado pelo PS em 21 de Dezembro de 1989.

    Só dois meses depois, o Governo apresentaria a sua proposta, acompanhada da polémica decisão de acabar com a taxa da RTP. Estou ainda hoje convencido que foi o facto de o PSD ter sido desta forma ultrapassado pelo PS que o “obrigou” a essa originalidade com tão graves consequências para o futuro da empresa.

    O resto da história é bem conhecido. Durante meses, na comissão especializada da Assembleia da República, o PSD e o seu Governo hesitaram e voltaram a hesitar sobre o espaço de emissão a dar à Igreja Católica. A nova Lei da Televisão, fruto da convergência das propostas do PS e do Governo PSD, só viria a ser aprovada em 12 de Julho de 1990, com os votos favoráveis do PSD, do PS e do CDS.

    Entretanto, o Governo só atribuiria as licenças à SIC e à TVI em 22 de Fevereiro de 1992, um ano e meio depois... Cerca de quatro meses depois das eleições...

    O PSD ou o PS não têm que se envergonhar de, no passado, terem defendido posições que, à luz da evolução do meio televisivo, podem ser hoje consideradas estatistas, antiliberais ou ultrapassadas.

    Até há cerca de duas décadas, o carácter finito do espectro radioeléctrico, o elevado custo das tecnologias, a herança da guerra mundial, a fragilidade da indústria audiovisual, entre outros motivos, generalizaram no nosso continente a ideia de um exigente e monopolista serviço público, preferencialmente prosseguido por empresas, institutos ou corporações públicas.

    Estes condicionalismos foram sendo progressivamente ultrapassados, mas a evolução europeia não se reflectiu tão rapidamente em Portugal, país periférico, com problemas de desenvolvimento, com um ainda frágil mercado publicitário e, até certa altura, com mais interesse popular por uma maior oferta do que candidatos à exploração de canais privados.

    A evolução europeia, a evolução portuguesa impuseram-se-nos a todos. O PSD convenceu-se primeiro que o PS? É possível, mas nunca quis ou foi capaz de provar isso.

    Os governos do PSD não têm assim qualquer legitimidade para se reclamarem do exclusivo na criação da televisão privada ou para invocarem a oposição dos socialistas como justificação por ela não ter aparecido mais cedo.»

19 comentários :

Anónimo disse...

Por favor não perca mais tempo com isto.

Anónimo disse...

Ah, pois, o assunto é incómodo...

- - -

Agora só uma coisa. Gostava que alguém me explicasse apenas uma coisa que nunca percebi bem.

- Porque é que Manuela Ferreira Leite tem tanto peso político? O que ela fez para ter esse peso todo? Que eleição venceu, que grande realização levou a cabo para os Portugueses?

Na minha opinião, o peso político dela foi fabricado pelos "analistas".

Se alguém puder provar o contrário, eu agradeço.


Edie Falco

Anónimo disse...

o QUE EU AINDA NÃO VI FOI NO QUE ACABA DE REPRODUZIR NESTES TRÊS POSTS ALGUMA COISA QUE CONTRARIE A FRASE DE PACHECO PEREIRA QUE REPRODUZIU AQUI NO SEU BLOGUE.

Anónimo disse...

Mais, Pacheco Pereira até diz o seguinte (o artigo já está no Abrupto agora o Miguel Abrantes pode ler até ao fim):

Esta mudança não virá do PS e, como as coisas estão, também não virá do PSD. O PS opôs-se à privatização de toda a comunicação social do Estado, se dependesse do PS o Diário de Noticias ainda seria do Estado, e opôs-se ao fim do monopólio da RTP e à criação dos canais privados. O PSD tem oscilado, a ele se deve a liberalização do espaço televisivo, mas no Governo tende a comportar-se como o PS no controlo da informação pública. Com Marcelo e Marques Mendes defendeu-se a privatização da RTP, mas duvido que a actual direcção do PSD mantenha esta política. Quanto ao PCP, por ele não havia televisão privada e o PP tem uma posição pouco clara, embora se possa admitir que evolua para uma postura mais liberal.

Anónimo disse...

Muito simples: Pacheco Pereira mente quando diz que o PS foi contra a abertura da tv à iniciativa privada, na altura em que ela foi concretizada. Pacheco omite que o próprio PSD, tal como o PS, também evoluiu nestas matérias, tanto mais que chegou a defender que continuasse um jornal estatizado até médio prazo...E Pacheco mente ainda ao dizer que o José R dos Santos se referia ao governo actual. Ele teve o cuidado de dizer que se referia apenas ao período em que foi director...
Pedro Carvalho

Anónimo disse...

PODEM DAR AS VOLTAS QUE QUISEREM, O PS SÓ SE ATRELOU AO FIM DO MONOPÓLIO TELEVISIVO QUANDO JÁ NÃO TINHA ALTERNATIVA. O PACHECO PEREIRA TEM RAZÃO CONTRA ESTES FABRICADORES DA HISTÓRIA QUE CITAM ARONS DE CARVALHO, UM DOS CONTROLEIROS DA COMUNICAÇÃO SOCIAL DO PS E QUE ESCREVEU CONTRA O FIM DO MONOPÓLIO TELEVISIVO E DEPOIS MUDOU D IDEIAS. JÁ AGORA O PACHECO PEREIRA TAMBÉM FALOU DO DIÁRIO DE NOTÍCIAS, ESQUECERAM-SE? ESTE BLOG PARECE ESCRITO NA FEDERAÇÃO DO PS!

Miguel Abrantes disse...

Tenho muita pena que só eu fique a saber quem escreveu o comentário anterior. Caros leitores, aqui respeitam-se os leitores que não se queiram identificar, mesmo que eles venham aqui parar escrevendo "http://blogsearch.google.com/blogsearch?q=%22Pacheco Pereira%22&I3.x=14&I3.y=12&ie=UTF-8&oe=UTF-8&scoring=d" e sejam um nosso frequente leitor de Santarém, mais propriamente de Almeirim.

Anónimo disse...

E quando o liberal Pacheco se lembrou de propor vedar corredores do Parlamento aos jornalistas?
E quando a SIC e TVI não podiam entrar nos estádios de futebol?
E quando as rádios locais estavam proibidas de retransmitir os noticiários da TSF? Tudo políticas do PSD, defendidas na primeira fila do Parlamento pelo liberal Pacheco...

Anónimo disse...

Já agora: a TVI é "independente" de quê? Só se for independente da igreja, que chagou tudo e todos e assim que apanhou a licençazita nas unhas tratou de passá-la a patacos. Grandes princípios, estes... "Não havia necessidade"...

Anónimo disse...

Miguel Abrantes,
Mas afinal, a Marmeleira fica em Almeirim ou em Rio Maior?

Anónimo disse...

Controleiro é o PSD. A imprensa portuguesa é toda PSD, é uma vergonha, até na TV do estado, lembram-se quando Marques M. reclamou pq não foi convidado para o Prós e Contras? Foram aferir e ficou provado que aparece lá mais gente do PSD do que do PS.

É UMA VERGONHA ESSA IMPRENSA SER TODA PSD, EXPRESSO, PÚBLICO, SOL, SEMANÁRIO, TUDO PSD, É UMA VERGONHA, ISSO É FASCISMO!!!

Miguel Abrantes disse...

Caro Pedro Carvalho:

A divisão territorial da Telepac não coincide com a dos municípios...

Anónimo disse...

Miguel Abrantes:

O que acaba de fazer ao Pacheco Pereira, é uma pulhice.

E sabe, se for espreitar, como parece seu costume, que não gosto aplaudo frequentemente o Pacheco Pereira.


Você perde-se nestas coisas pequenas que revelam um carácter.

Pena, mais uma vez.

Não assino porque não me apetece.

Anónimo disse...

Veja lá se descobre de onde lhe estou a escrever.

Anónimo disse...

Caro Miguel:

Uma vez espreitador de urinóis, sempre espreitador...

E pode publicar os meus dados.

Se quer anonimato e o aceita, vá até ao fim. Se não quer, sabe como se faz. Mas não entre pela via dos troca-tintas.

Anónimo disse...

Podem chegar aqui e malhar e insultar o abrantes, ele tem de comer e calar.

Anónimo disse...

"Podem chegar aqui e malhar e insultar o abrantes, ele tem de comer e calar."

Burro: "A moderação de comentários foi activada. Todos os comentários têm de ser aprovados pelo autor do blogue."

Como se pode insultar um sábio que cheira o Pacheco à distância e digitalmente?

Anónimo disse...

A atitude deste blogger é tão pulha que não admira que também tudo o que ele diga sejam só aldrabices.

Anónimo disse...

Se foi mesmo Pacheco Pereira que deixou aquele comentário, então só se pode acreditar nele e passar a duvidar de tudo o que Miguel Abrantes diga já que este demonstra ter uma grande falta de caracter.