segunda-feira, dezembro 10, 2007

O liberalismo contra Hayek e Mises

Raymond Plant, membro da Câmara dos Lordes, escreve um artigo de opinião, no Diário Económico, denominado A decadência do liberalismo. Sugere-se a sua leitura, transcrevendo-se os seguintes extractos:

    «(…) Nos últimos anos, os bancos têm vindo a desenvolver alguns instrumentos financeiros altamente complexos para facilitarem os seus negócios, em especial na área do crédito hipotecário, tendo conquistado vantagens legais a expensas da desregulação e liberalização dos sectores financeiros das economias nacionais. Estes novos instrumentos são, em certa medida, produto do liberalismo económico.

    E o facto de estes novos instrumentos não terem preço de mercado constitui um problema, na medida em que o seu valor é determinado por modelos matemáticos usados pela banca e pelas agências de ‘rating’, sendo vendidos entre bancos a preços que reflectem esses mesmos modelos. O que significa que não são comprados nem vendidos no tal “mecanismo central” que gera os preços, designadamente no mercado aberto (…).

    (...) O valor, precisamente aquilo que o preço representa, não pode ser fixado por um modelo estranho ao preço de mercado. Logo, o preço é a medida do valor, ou seja, não existe outro sentido de valor associado aos bens económicos.

    Nesta perspectiva, o preço constitui uma ferramenta informativa crucial para a economia de mercado, pois indica onde está a procura e o que devem fazer empresários e fornecedores – e quais os custos – para satisfazer a procura. Desvincular o valor do preço significa que passámos para a esfera do irreal, do metafísico. A ironia reside no facto de a grave crise nas economias capitalistas liberais poder abrir caminho a uma maior regulação e intervenção governamental, e, in extremis, a um maior nacionalismo devido à substituição da lógica de valor e preço por concepções abstractas de preço, que não podem, enquanto tal, assumir o papel indispensável até aqui desempenhado pelo preço na economia capitalista, visto carecerem de uma base racional.

    (…) a modelação matemática atinge um grau de transparência impossível de aplicar às regras, ao conhecimento tácito e hábitos que participam na formação de preços de mercado. São estes os argumentos esgrimidos pela crítica liberal quando se diz que os “preços” podem ser fixados sob o socialismo sem existir uma economia de mercado. Estes preços eram pura ficção. Mas, agora, corremos o risco de ficar presos a ficções idênticas no caso dos bancos – os verdadeiros motores do capitalismo liberal. Não se sabendo se é possível recuperar fórmulas mais ortodoxas de avaliar estes activos, e mais próximas da fixação de preços “natural”, teremos, nós e os bancos, de confiar numa ideia mais abstracta e metafísica de valor e preço. Pessoalmente, não creio que este cenário nos possa servir de consolo.»

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