segunda-feira, maio 12, 2008

Ainda sobre a “agenda progressista” para a tributação dos bancos





Tropecei num dos pontos da “agenda progressista” enunciada por João Rodrigues: “bancos a pagar IRC como as outras empresas (e não uns vergonhosos 13%)”. A resposta telegráfica veio de Nuno Teles (suponho que um parceiro de blogue) na caixa de comentários deste post: a percentagem fora achada numa notícia do DN, que reproduz um trabalho da Associação Portuguesa de Bancos (APB).

Convém perceber do que se fala. As empresas têm de fechar as contas até ao final de Março, dispondo de mais dois meses para preparar a declaração de IRC que são obrigadas a apresentar ao fisco (até ao final do mês de Maio, portanto).

Assim sendo, ainda não há (nem poderia haver) dados que permitam concluir que, em 2007, a taxa efectiva de IRC foi de “uns vergonhosos 13%”. De resto, se Nuno Teles (e João Rodrigues) tivesse lido com atenção a notícia que cita, desconfiaria da imprecisão de linguagem adoptada para transmitir tal conclusão.

Há três noções de natureza diferente que não devem ser confundidas: “lucro contabilístico”, “lucro tributável” e “matéria colectável”. Ao resultado do exercício há que acrescer as variações patrimoniais positivas e deduzir as variações negativas, assim como acrescer custos não aceites em termos fiscais e deduzir mais-valias contabilísticas, benefícios fiscais, etc..

A taxa efectiva de IRC corresponde a uma relação de cujo numerador consta o IRC liquidado e a tributação autónoma e do denominador a matéria colectável e os benefícios por dedução ao rendimento.

O trabalho da APB, no momento em que é feito, reproduz a óptica contabilística, que é posteriormente sujeita, para efeitos fiscais, a várias correcções (tanto pelas empresas como pelo próprio fisco).

Não tendo sido criados, entretanto, benefícios fiscais com impacto relevante e, na maioria dos casos, estando no essencial absorvidos os efeitos das fusões, não há nenhuma razão para que a taxa efectiva de IRC sofra uma alteração significativa.

Por isso, o mais provável é que a taxa efectiva das instituições financeiras (bancos e seguradoras) não tenha sofrido variações significativas em 2006, nem as venha a sentir em 2007.

10 comentários :

Anónimo disse...

Deviam pafar 40 %

Nuno disse...

Quer me parecer que o que os Ladrões de Bicicletas defendem é que 13% é manifestamente pouco, qd a taxa nominal são 25%!

Anónimo disse...

E então? À luz da "óptica contabilística" está tudo muito certo e é tudo muito justo?
O "cinzentismo" das normativas e a sacralização dos números justifica tudo?!
Sabemos muito bem como são feitas essas "correcções fiscais", essas artimanhas que permitem justificar o injustificável. E o injustificável é, de facto, os bancos gozarem de tratamento preferencial por parte do fisco e serem beneficiados por este relativamente às outras empresas.
É escandaloso!

Anónimo disse...

Isto sempre foi assim, vejam as benesse que Prof Dr. Cavaco Silva (das berlengas)deu aos empresarios, vejam as quintas e BMW foram compradas, foi tudo a largadere, um saque completo, ainda com pena dos agiotas....e so agora e que miam?

Anónimo disse...

E os empresarios alguns falsificados como os funcionarios do serviço da republica em comparaçao com os trabalhadores por conta de outrem, sendo certo, que estes produzem a mais valia..e quem e que leve as reformas, e as progressões na carreira? e despedimentos...tratam uns de 1º categoria e outros abaixo de cão ...foi o sociedade que o Prof Pardal deixou cimentado, naoi nos esquecemos que ele é um funcionario
publico, com um valente reforma,,alias vai a caminho das 4..

Anónimo disse...

Apesar de tudo, o Socratino vai-lhes
enfiar o cabo da vassoura pelas nalgas acima.

So tem 2 "senãos", a criminalidade e tao nefasto portugueses de 1ª e de 2ª, mais nenhum pais da europa tem esta caracteristica, faz lembrar o tempo do botas, alias nunca "morreu". >O tempo do estado proctetor sempre existiu...os funcionarios publicos que os alimentaram desde a sua existencia, desde o nascimento ate a morreram, ~se não deixarem viuva.

Pais subdesenvvolvido é que é

o castendo disse...

Leitura educativa:
Alguns prospectos de publicidade à compra de acções do BCP.
Aí se diz, preto no branco, quanto (em percentagem) o BCP pagou de IRC...
Declaração de interesse: não sou cliente do BCP, nem tenho acções do referido banco (nem de nenhuma outra instituição).
Jogo por jogo só jogo no euromilhões...

Miguel Abrantes disse...

.

Caro Vilarigues:

Não será publicidade enganosa (a que, de resto, o BCP sob o domínio do Opus Dei nos habituou)? Desconfia da correcção das estatísticas oficiais? Por que não exige o PCP ao Eurostat, por exemplo, uma auditoria?

o castendo disse...

Caro Miguel Abrantes,
A história, como sabe, já vem de longe.
Assumiu contornos mediàticos na TV durante a campanha para a AR de 1999 com António Guterres a afirmar a Carlos Carvalhas que desconhecia a questão e que ia verificar e CORRIGIR o escândalo (25% para uns e 13 % para outros).
Como também sabe (basta ir ao site do PCP) não há documento do CC e poucas são as intervenções públicas de Jerónimo de Sousa onde o tema não seja abordado e as soluções apresentadas...

Miguel Abrantes disse...

Caro António Vilarigues:

A taxa nominal geral é de 25 por cento. Os dados disponíveis mostram que a taxa efectiva das instituições financeiras foi de 20 por cento. A taxa efectiva global foi de 17 por cento, abaixo da paga pelos bancos e seguradoras.

Veja aqui:

http://www.dgci.min-financas.pt/NR/rdonlyres/25D62325-EB07-495C-B0AD-71572B1AA5DC/0/IRC2003_2005.xls


Os aproveitamentos desavergonhados que a banca fez do off-shore da Madeira, nomeadamente nos primeiros anos da década de 90, foram posteriormente corrigidos…