domingo, julho 06, 2008

“Diga Lá Excelência”

Extracto da entrevista da RR/Público/RTP2 a Fernando Ulrich, presidente do BPI:
    Neste momento não há mais nada a fazer em matéria do combate à crise?

    FU — A crise tem componentes internacionais e não é o Governo que pode combater sozinho a subida do preço do petróleo, das matérias-primas ou das taxas de juro. Mas pode adoptar uma política virada para o longo prazo de redução da dependência energética. Na actual situação, com vários choques externos a ocorrerem ao mesmo tempo, o Governo deve ter uma particular atenção à coesão social e aos mais desfavorecidos. E é aqui que acho que o Governo tem alguma margem de manobra.

    Onde é que o Governo vai buscar os recursos?

    FU — Pode aumentar os impostos sobre os que estão melhor, de modo a ser redistributivo e a ajudar os mais vulneráveis e os mais desfavorecidos. Admito que se crie um escalão adicional de IRS para os que mais ganham e não me chocava se se criasse uma sobretaxa sobre o IRC. E já defendi a tributação das mais-valias em ganhos com instrumentos financeiros, não vejo nenhuma razão para que isso não aconteça em Portugal.

    Mas os banqueiros alegam que a medida faz fugir os capitais?

    FU — Isso é mentira. Não aceito essa chantagem. Estamos na UE, onde há cada vez mais mecanismos de controlo da fraude e da evasão fiscal, e as autoridades devem punir quem foge indevidamente ao fisco. Há vários países europeus onde os impostos são mais elevados do que em Portugal, pelo que há margem para aumentar os impostos. Também não me chocava que agora que os juros têm subido bastante se aumentasse um bocadinho a tributação sobre os depósitos e as obrigações. Mas admito que o Governo não tenha necessidade e não queira fazer tudo de uma vez.

    E um imposto sobre riqueza?

    FU — Sou frontalmente contra. A riqueza pode não gerar rendimentos. Se os seus pais lhe deixarem uma casa, para que essa casa passe alguma coisa para os outros tem que a vender. E o que menos precisamos é de pessoas a vender coisas, seja casa, seja acções, seja o que for. As pessoas têm o direito de ter a ambição de acumular para deixar à família e se esta quiser usufruir dos bens deve poder fazê-lo. Sou contra tudo o que seja tributar património. Tributar sim os rendimentos.

    É a favor da tributação dos lucros das petrolíferas?

    FU — Percebo que o tema seja discutido, sobretudo se se concluir que as petrolíferas tiveram lucros excepcionais, beneficiando, de alguma forma, da situação do mercado petrolífero. Eventualmente podia-se adoptar uma sobretaxa de IRC, abrangendo as empresas com lucros superiores a 100 milhões de euros. Na parte acima dos 100 milhões em vez de pagarem 25 por cento, pagariam 26, 27, 28 por cento.

    Aplicaria essa proposta à banca?

    FU — Sim, aos bancos que ganharem mais de 100 milhões de euros. Não tenho pretensão de ter propostas específicas, mas o que estou dizer, e eu serei um dos penalizados, é que nesta situação de crise justifica-se que se tribute mais os que mais ganham. Deve haver abertura para discutir estas questões.

1 comentário :

Anónimo disse...

Aqui está um banqueiro honesto. O que propõe é exequível e o governo deveria aproveitar algumas deixas.