- “O fetichismo do chumbo é uma monomania nacional, que tende a esquecer as estratégias desenvolvidas noutros países europeus, onde o combate ao insucesso escolar se faz, há décadas, não afastando do sistema os alunos com dificuldades, mas com um acompanhamento individualizado, atento aos primeiros sinais de dificuldade na aprendizagem e capaz de desenvolver planos de recuperação adaptados aos problemas específicos de cada aluno. A retenção, como tem sido demonstrado por um número infindável de estudos, é um mau instrumento pedagógico. Não serve para que os alunos recuperem o atraso, tende antes para a segregação dos alunos.
A insistência nas retenções tem aliás um efeito singular: atinge na sua grande maioria os filhos de famílias com fracos recursos culturais e económicos. Ou seja, contribui para o afastamento do sistema educativo daqueles que mais precisam de fazer parte dele – o que ajuda a explicar a persistência, em Portugal, de taxas de abandono escolar que não encontram paralelo na Europa. Não por acaso, no relatório da UNESCO, “Education for All”, Portugal aparece como o único país do mundo desenvolvido que apresentava taxas de retenção no ensino básico comparáveis a alguns dos países mais pobres.
Estes números, aliás, têm consequências reais para o país. Por um lado, contribuem para a reprodução geracional da desigualdade naquela que é a sociedade mais desigual da Europa; por outro, por estarem associados a défices de qualificação, colocam em risco a capacidade adaptativa do nosso tecido económico. Aliás, de acordo com estimativas da OCDE, o PIB português poderia ter crescido mais 1,2 pontos percentuais por ano, entre as décadas de 1970 a 1990, se os nossos níveis de escolaridade estivessem equiparados à média dos países da OCDE.”
- “Infelizmente, o discurso padece logo de uma doença grave: está escrito com os pés. Não sei se é por os speech writers estarem de férias ou por as eleições americanas aumentarem a exigência, a verdade é que estive para enviar uma mensagem a Ferreira Leite com o meu número de telemóvel. Eu não percebo muito de política, mas acho que podia contribuir modestamente para lhe endireitar o português. Críticas ao Governo por não mobilizar as pessoas para uma "nova atitude de iniciativa" (hein?) ou por "confundir reacção com concepção" (como?) eram fáceis de evitar. Já para não falar na "capacidade de penetração das polícias". Mas o mais grave não é isso. O mais grave é mesmo a absoluta incapacidade que Manuela revelou para ultrapassar a velha babugem política.”
1 comentário :
Miguelito:
Porque não lês este texto do Blog da tua amiga:
http://dererummundi.blogspot.com/2008/09/uma-ofensa-nobreza-da-pedagogia.html
É que há deferenças entre tentar acabar com os chumbos realmente e tentar mascará-los estatisticamente.
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