• Fernanda Câncio, A DERROTA DE PACHECO:
- «Como pôde Pacheco Pereira enganar-se assim a respeito de alguém que conhece há tantos anos, política e pessoalmente? É Manuela Ferreira Leite uma assim tão boa actriz ou foi Pacheco Pereira que, desejoso de acreditar ter enfim encontrado a criatura perfeita para dirigir o PSD por interposta pessoa, se enganou a si próprio? Certo é que, esgotado o seu prazo de utilidade como propagandista da "seriedade" e "credibilidade", o homem que mais incensou a rectidão da líder, o seu carácter tão tão superior ao dos outros candidatos, as suas tão extraordinárias experiência e visão políticas e lhe guardou a vitória numa terna fotografia de groupie, viu prescindidos os seus serviços. Como ri Menezes, como ri Santana do seu arqui-inimigo. Como ri Passos Coelho, a quem chamou "velho jovem", a quem acusou de ser nada mais que um aparelhista e reduziu a "uma imagem" (e que era a Ferreira Leite das "nobres rugas" nos close-ups da RTP senão uma imagem?).
O homem que ontem dizia, na Quadratura do Círculo da SIC Notícias, ponderar votar em Santarém em vez de em Lisboa para não ter de encarar a hipótese de pôr a cruz em Santana sofreu uma das maiores derrotas da sua dupla condição de político e comentador. Não seguramente a primeira - tem aliás o simbolismo trágico de um prémio de carreira. Um prémio ao contrário, como ao contrário estava o símbolo do PSD nos seus escritos anti-Menezes e anti-Santana. Ao virar de pernas para o ar a seta do partido nesses tempos que julgou esconjurar e que regressaram com o rosto da sua candidata, Pacheco Pereira estava afinal a fazer o auto-retrato. Mas triste triste é que a sua derrota não seja a de um justo que nunca quis sujar as mãos, de um romântico que nunca se fez à intriga. Triste é que ele tenha realmente querido e tentado, e seja mesmo e sobretudo falta de jeito.»
2 comentários :
Li o artigo no DN, muito certeiro e verdadeiro. Só é pena o cavalheiro não se retratar e reconhecer que errou nas suas analises. Mas essa atitude não para qualquer um, falta-lhe dimensão e coragem, que é o que ele tem menos.
Cada vez gosto mais dos livros editados pela 'Tinta da China'.
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