sexta-feira, fevereiro 06, 2009

De novo a palavra aos leitores - "1985"

Contributo da leitora Fernanda G.:
    «O processo mediático Freeport traz-me à memória um caso que acompanhei, como jornalista, em 1985.

    Recorde-se:

    O Governo era da coligação PS/PSD, sendo Mário Soares primeiro-ministro e Mota Pinto, vice-primeiro-ministro. Ernâni Lopes, nas Finanças, conduzia uma política de austeridade, impopular mas eficaz, imposta, de resto, pelo FMI, para fazer face ao descalabro das contas públicas herdado.

    Com a morte de Mota Pinto, em Maio, o Governo, já fragilizado pelo mau relacionamento com o presidente Eanes, pela instabilidade no PSD e pelo aperto do cinto, sofreu um duro golpe. No mês seguinte, o Congresso do PSD na Figueira da Foz deu a liderança a Cavaco Silva.

    A 12 de Junho, os Jerónimos foram palco da assinatura da acta final de adesão de Portugal à CEE. Não era ainda União Europeia, lembre-se, mas a CEE do tema gozão de Reininho ("Quero ver Portugal na CEE").

    Neste clima, simultaneamente austero e de grandes expectativas, os então CTT/TLP lançaram concursos para fabrico e instalação de centrais digitais, uma profunda revolução nas comunicações.

    Das 13 grandes empresas multinacionais concorrentes, os CTT/TLP seleccionaram para consultas a Alcatel/Thompson, a ATT-Philips, a ITT e a Siemens. Em Outubro, o Governo adjudicou o fornecimento das centrais à Siemens (em associação com o fabricante nacional Centrel) e à Alcatel (em ligação com a Standard Eléctrica).

    Antes, porém, empresas excluídas, insatisfeitas, protestaram. E logo em alguma imprensa foram lançadas suspeitas de "favorecimento" dos fabricantes alemães e franceses.

    Para o meu trabalho, não me limitei a ouvir os políticos da tutela. Falei com responsáveis dos CTT/TLP. Segundo eles, a escolha fora pacífica, os especialistas estavam de acordo.

    Mas o que se publicava em alguns jornais era o contrário.

    Neste panorama, Cavaco Silva aparece a insurgir-se contra o processo de adjudicação das centrais, nomeadamente após audiência no Palácio de Belém. Estranhei, na altura, este súbito bom relacionamento, públicos que eram os desentendimento de Ramalho Eanes com Sá Carneiro, primeiro, e com F. Balsemão, depois.

    Nascia, entretanto, o novo partido PRD, sob a égide de Belém, e que foi o grande beneficiário da dissolução do Parlamento, absorvendo quase metade do eleitorado do PS. Também ele se propunha "moralizar a vida política nacional".

    O novo Governo PSD saído das eleições, empossado a 6 de Novembro, não perdeu tempo. E na véspera de Natal, anulou a adjudicação à Alcatel, mantendo a da Siemens.

    Simplesmente, no ano seguinte, ITT e Alcatel fundem-se e... o seu sistema de comutação digital (o 12) acabou, na mesma, por ser adoptado pelos CTT/TLP.

    Moral da história: as suspeições levantadas causaram mossa no espectro político, mas factos posteriores provaram a sua falsidade.

    Quanto ao PRD teve vida breve e fim infeliz, como se sabe.
    »

1 comentário :

Anónimo disse...

Esta historia real é no fundo aquilo que somos.

Uma cambada de Invejosos, rancorosos, vaidosos, lambe-botas e bufos.

xico ribeiro