quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Leituras

• Dani Rodrik, Em breve: Capitalismo 3.0:
    “A economia mista do pós-guerra foi construída e gerida ao nível dos Estados-Nações, e precisava de manter à distância a economia internacional. O regime Bretton Woods-GATT implicava uma forma "superficial" de integração económica internacional que exigia o controlo das entradas de capitais internacionais, que Keynes e os seus contemporâneos consideravam crucial para gestão da economia doméstica.

    Aos países era exigido que assumissem apenas uma liberalização comercial limitada, com muitas excepções em sectores socialmente sensíveis (agricultura, têxteis e serviços). Isto deixou-os livres para construírem as suas próprias versões do capitalismo nacional, desde que obedecessem a poucas e simples regras internacionais.

    A actual crise mostra o quão longe nos afastamos deste modelo. A globalização financeira, em particular, lançou a confusão com as antigas regras. Quando o capitalismo chinês se encontrou com o capitalismo americano, com poucas válvulas de segurança a funcionar, deu origem a uma mistura explosiva.”
• Marina Costa Lobo, As escolhas de Manuela:
    “E no caso de Manuela houve escolhas importantes que foram erradas do ponto de vista da sua credibilidade. Tanto nas políticas como nas pessoas.

    No que toca às políticas, o oportunismo político de embaraçar o governo tem vindo a sobrepôr-se a um posicionamento ideológico mais coerente que porventura seria menos antagónico do governo mas poderia ser mais congruente com o seu eleitorado de base. E mais credível do ponto de vista da imagem da líder. Ferreira Leite tem cedido ao impulso anti-governo, seja no caso das avaliações dos professores, seja no caso do código do trabalho. Ao fazer isso não se distingue dos partidos que têm vocação permanente de oposição e por isso não precisam de assumir posições de responsabilidade.

    Mais fundamentalmente talvez, todos sabíamos que apesar da euforia precoce com que os comentadores de direita saudaram a chegada à liderança de Manuela Ferreira Leite, ela tinha um problema, que era ganhar o partido, onde apenas 38% dos votantes a apoiaram. O que até hoje não aconteceu. Ferreira Leite não conseguiu verdadeiramente mobilizar massa crítica à sua volta. Poderíamos dar como exemplo o anúncio de Sampaio e Mello para liderar o gabinete de estudos que acabou por não se concretizar.

    No entanto, o exemplo cabal da não-liderança do PSD por parte de Ferreira Leite foi a forma como se escolheu o candidato daquele partido à presidência da Câmara de Lisboa. Depois de se ter assumido na campanha das directas como uma alternativa ao modo de fazer política dos anteriores líderes, nomeadamente Santana Lopes e Menezes, Ferreira Leite provou que tudo o que tinha dito poderia ser desdito, sucumbindo às pressões do próprio Santana Lopes e supostamente da concelhia de Lisboa.

    Se ela própria apoia uma candidatura do seu mais aguerrido ex-rival, os eleitores poderão razoavelmente pensar que esta nova liderança não marca uma viragem em relação às anteriores chefias do PSD, e portanto não merece subir nas sondagens.”

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