Nas caçadas só o javali é que é pressionado

João Palma, o herdeiro do inigualável Cluny, é hoje retratado na revista do DN. Apesar de ser um mero procurador adjunto (e não procurador, como avança o jornal), com um currículo anónimo, partilha a revista com Corín Tellado, a mulher que escreveu quatro mil romances de amor, cujo desfecho era sempre conhecido: a criada, grávida do patrão, acabava por casar com ele e viviam felizes para sempre.

Palma não exibe esta história, mas não anda muito longe. Nasceu em “berço de ouro”, filho de um presidente de câmara do antigo regime e proprietário de latifúndio, estudou na Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa, sem exibir outro mérito que não seja não ter chumbado nenhum ano, e ingressou depois no Ministério Público.

Para trabalhar a sério? Pelo menos na magistratura nem tanto… A fazer fé na biografia, rapidamente pulou para um lugar de confiança política na Inspecção-Geral da Administração Interna, onde marina já há cinco anos.

Sobra-lhe, entretanto, tempo para velejar e para umas caçadas com gente ilustre como Manuel Dias Loureiro ou Manuel Alegre, que lhe augura um grande futuro.

Mas não ficamos por aqui. O Palma, como todos já perceberam, dedica-se agora sobretudo ao Sindicato dos Magistrados do Ministério Público. Temos, portanto, um jovem magistrado com uma energia prodigiosa, que inspecciona num lugar de confiança política do Governo, veleja para produzir o físico, caça javalis para cultivar amizades selectas e se transforma em sindicalista para atacar o Governo. É obra.

Sem ter a patine do antecessor, sem ter o glamour do presidente honorário Cluny, é sem dúvida um quadro promissor. Sobretudo se se passar a dedicar mais àquilo que diz defender: a actividade da magistratura a que pertence.