segunda-feira, maio 11, 2009

António Borges salva o universo (e, em princípio, também Portugal) © [2]




Já quando toda a gente deitava as mãos à cabeça por causa das consequências das contínuas (re)vendas, até se perder o rasto, dos créditos de altíssimo risco (os créditos NINJA, ou seja, No Income No Job or Assets), o imperturbável António Borges não vergava: o subprime é “uma das melhores inovações dos últimos anos”.

É o mesmo António Borges que, indiferente ao caos financeiro mundial, continua a defender a privatização total da segurança social [SIC, aos 2:45]:
    SIC — Acha que as propostas feitas em 2005 de se privatizar toda a segurança social portuguesa ainda são válidas?
    BorgesClaro que são.
Há dois aspectos em que o vice-presidente da Dr.ª Manuela é muito coerente, nem que para isso tenha que meter os pés pelas mãos: afastar o Estado dos mercados financeiros e alijar as responsabilidades dos gestores pela crise financeira internacional.

Veja-se a seguinte passagem de um artigo de Borges no Expresso [11 de Outubro de 2008, suplemento de Economia, pp. 22-23], em que faz a defesa da opacidade dos produtos financeiros:
    É absolutamente verdade que muitos produtos financeiros são tão complexos que só os grandes especialistas os compreendem. Mesmo os reguladores estão com frequência muito atrás da inovação no sector financeiro e não percebem o que se passa. O problema é que, sem inovação e sem sofisticação crescente dos produtos, o sector não pode responder às necessidades de uma economia cada vez mais complexa e incerta. O regresso a produtos simples e compreensíveis implicaria um retrocesso gigantesco na capacidade de gestão do risco”.
Entretanto, António Borges faz declarações ao Diário Económico [suplemento MBA Guide BOOK, 31 de Março de 2009] sobre a responsabilidade dos gestores. Veja-se que, quando antes sustentara que os reguladores não conseguiam acompanhar a “inovação no sector financeiro e não percebem o que se passa”, vira depois tudo do avesso para, com um truque de mágica, desresponsabilizar os gestores pelas tropelias do capital financeiro:
    Os gestores têm uma responsabilidade marginal. (…) A versão politicamente correcta é dizer que foram os gestores dos bancos e a sua ganância a causar este problema. Isso é completamente falso”.
E como é que Borges justifica a sua pirueta? Contradizendo o que havia escrito no Expresso:
    Se o regulador, que tem uma visão completa do sistema não percebeu o problema, porque é que os gestores dos bancos que têm uma visão parcial que é a da sua instituição tinham obrigação de perceber?
Nada disto teria importância para a Humanidade se António Borges, depois de ter recebido uma palmada nas costas de agradecimento da Goldman Sachs, tivesse ficado quietinho em Alter do Chão. Acontece que o vice-presidente da Dr.ª Manuela decidiu explicar esta semana o que entende que se aprendeu com a crise financeira. Não se tratando aparentemente de um curso de auto-ajuda, parece que António Borges deu em vender o elixir da longa vida. A vida, essa, custa a (quase) todos.

6 comentários :

Anónimo disse...

Tb não havia necessidade de desgraçar assim a vida ao homem -:)))

Fernando P disse...

A Câmara está de leitura cada vez mais necessária.

Anónimo disse...

O Borges tem a vantagem de ser transparente... Ele anda nisto para defender com unhas e dentes o modelo mais extremado do neoliberalismo.

Anónimo disse...

O Borges tem a vantagem de ser transparente... Ele anda nisto para defender com unhas e dentes o modelo mais extremado do neoliberalismo.

Miguel Gomes Coelho disse...

O Dr. António Borges (esse grande político com actividade em Alter) é como o pudim instantâneo...
-É amarelo, treme e não se desmancha...e não tem qualquer sabor que leve alguém a voltar a comprá-lo. Fica na prateleira como , aliás, tem sempre estado, ou seja, na vice-presidência do PSD.

A. Moura Pinto disse...

Borges tem razão porque:
1. O simples sempre foi inimigo do complexo e ser complexo é que dá.
2. Há que saber ver a árvore (a nossa tasca), mandando lixar a floresta,requisito essencial para quem quer ser gestor à altura. Para a floresta temos a Protecção Civil...