- ‘Os economistas são uns sortudos. Como a economia não é uma ciência exacta e as expectativas dependem de pressupostos, podem arriscar números à vontade que ninguém os contesta: se falharem, o falhanço não é deles mas de uma qualquer variável que borregou. Beneficiam ainda dos chamados paradoxos da economia: perante um problema, que apela a determinado instrumento, a sua aplicação pode ter um efeito ou o seu contrário.
Peguemos nos custos do trabalho, que em 2008 já pesavam 50% do PIB e têm estado a subir, afectando com isso a competitividade. Se os baixarmos, a competitividade melhora e as empresas vendem mais, levando à criação de mais emprego. Mas, se todos fizerem o mesmo ao mesmo tempo, as melhorias anulam-se entre si, os problemas mantêm-se e, no limite, até pode suceder que o desemprego aumente. É o paradoxo dos salários.
O caso da poupança é semelhante. Para um PIB igual a 100, o investimento em 2008 foi de 22,2, que cobrimos com 10,3 de poupança interna e 11,9 de poupança exterior - que teremos de reembolsar com juros. Posto assim o problema, é óbvio que a poupança é uma virtude. Mas, se pouparmos em excesso, anulamos o efeito do consumo e corremos o risco de afundar a economia. Evitar o paradoxo é poupar o quanto baste.
Há ainda a dívida externa, que já excede o valor do PIB. Hoje, todos devem a toda a gente e ninguém sabe ao certo quando e como é que tudo isto vai acabar. E, a esta luz, qualquer opção que signifique reduzir a dívida é óptima. Passamos a respirar melhor. Mas, se todos desatarmos a vender activos, e formos depois a correr despejar a liquidez nos bancos, o sistema financeiro pode entrar em colapso. Chamemos-lhe paradoxo do desinvestimento.
Estes são paradoxos clássicos. Mas eis que surgiu um novo, a que poderemos chamar paradoxo de Manuela. Foi descoberto pela líder do PSD, vai passar à História e repousa nesta máxima: "é preciso parar tudo porque não há dinheiro para nada". Ela própria nos explicou o conceito: se ganhar as eleições, e for ela a mandar - rasga tudo! Eu acho que devíamos votar na senhora. Se o nosso problema é a dívida, dentro de uns anitos não haverá dívida para ninguém. Estamos todos mortos.
Lembram-se do cavalo do inglês?’
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