sexta-feira, julho 10, 2009

Mais leituras

• Fernanda Câncio, O Presidente fracturante:
    (…) as declarações do Presidente só podem ser entendidas, não como uma advertência prática resultante de uma preocupação genuína, mas como um manifesto de campanha. Numa altura em que a proximidade de umas eleições que se prefiguram muito disputadas, nas quais um dos principais contendores é o partido que chefiou liderado por uma sua alegada discípula, deveria levar o Presidente a um maior cuidado nas suas intervenções públicas se queria manter pelo menos os mínimos na aparência de equidistância, Cavaco Silva decidiu rasgar o seu pressuposto de árbitro institucional e lançar-se no calor da refrega. Decidiu, afinal, fracturar.
• Leonel Moura, O outro poder:
    Desde logo, o jornalismo abandonou definitivamente a sua vocação de informação para se dedicar directamente à formação da opinião pública. A informação sobre factos concretos é agora residual, parcelar ou abertamente manipulada, pois o objectivo central das notícias é construir uma mensagem política objectiva como parte de uma narrativa ideológica. Essa ideia, algo romântica, da procura da verdade há muito que abandonou as redacções. Sobretudo nas televisões que vivem das imagens e do espectáculo construído com elas (…).

    Por sua vez, praticamente todas as estruturas sociais organizadas, desde sindicatos, corporações, associações das mais diversas, agremiações de interesses, colectivos, clubes e grupos informais, rapidamente atravessam a fronteira da sua actividade, profissão ou causa, para se dedicarem à política activa e mesmo partidária. A tão proclamada "sociedade civil" é uma falácia, pois na verdade as pessoas juntam-se para fazer política e para tentar exercer o seu maior ou menor poder sobre o conjunto da sociedade.

    Do mesmo modo, através da omnipresença dos media foram surgindo individualidades que se constituem em verdadeiras emanações de poder. Alguns comentadores, de tão ouvidos e repetidos, tornaram-se numa espécie de pequenos partidos de um homem só com enorme influência junto da opinião pública. Estabelecem agendas, promovem e despromovem decisões, influenciam votações, enfim, são políticos profissionais e muito activos mesmo quando declinam essa condição e, por método, atacam a política e os políticos.

2 comentários :

odete pinto disse...

Excelentíssimo artigo!

Infelizmente verdadeiro.

NetKingCool disse...

a cancio com tanto gosto por causas fracturantes ainda vai rasgar o seu apoio ao alegre e vai votar cavaco
o sampaio não fracturou um governo legitimo de maioria
que se saiba o chorão não é inimputavel