segunda-feira, dezembro 21, 2009
O delírio
Curvo Semedo, um culto médico do fim do séc. XVII, descrevia o delírio como “depravação da fantasia, à qual se representam cousas absurdas, & molestas”. Na hora actual, já se tem uma ideia mais precisa de que se trata de uma perturbação mórbida do pensamento de certos alienados, que está na génese da criação de falsos juízos e apreciações erradas, que não são susceptíveis de correcção pela experiência nem refutação pelo raciocínio.
A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira exemplifica: “O paranóico percebe num gesto, na cor duma gravata, na posição dum objecto, numa frase banal, um sentido particular, relacionado com certas tendências, receios ou aspirações dominantes da sua personalidade, que podem ser conscientes ou inconscientes e tomar um aspecto simbólico”.
Karl Jaspers foi talvez o primeiro a identificar os traços característicos de um comportamento delirante: a certeza (mantida com absoluta convicção), a incorrigibilidade (não passível de mudança por força de contra-argumentação ou prova em contrário) e a impossibilidade ou falsidade do conteúdo (implausível, bizarro ou patentemente inverídico).
Mas é Kraepelin que nos deixa algo apreensivos quando avisa que os transtornos mentais podem resvalar para uma psicose delirante crónica ou paranóia, cujo quadro clínico se traduz num “delírio sistematizado, quer dizer, um sistema delirante coerente e lógico, de desenvolvimento insidioso, evolução crónica e irreversível (…) que se acompanha de clareza e ordem na consciência, no pensamento e no comportamento” [Alonso-Fernández (1976): Fundamentos de la Psiquiatria Actual, Tomo 1, Editorial Paz Montalvo, Madrid, p. 492].
Não é raro o suicídio ou a loucura cruzarem-se com as pessoas afectadas por esta perturbação mental (v.g., no delírio melancólico ou de ruína). Felizmente, em casos menos graves, o alienado procura canalizar as obsessões para causas nobres (fazer, por exemplo, um doutoramento) e, quando não consegue levar a bom porto aquilo a que se propôs, tem o discernimento de transferir a ideia obsessiva para um outro alvo, ainda que nestes casos possa assumir comportamentos violentos. É o denominado delírio de grandeza (“quero uma daquelas pastas da pesada”), sob efeito do qual o doente se apresenta generoso para quem aceita o seu delírio, mas pode tornar-se violento para aqueles que o contrariam. Temos de ser compreensivos e solidários para com a desgraça alheia.
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13 comentários :
Uma subscrição para um par de pistolas!
Jnascimento
Só falta aconselhar um hospital psiquiátrico para prender o Pacheco como se fazia na União Soviética.
Então, Miguel, agora andamos a estudar psiquiatria ? O caso, na verdade, merece estudo.
Muito oportuno, este post.
Depois de o ver a perorar na SIC, quase me convenço que o que você escreveu é uma verdade absoluta, e que o Sr. da Marmeleira precisa de tratamento. Antonio Manso
Já pensaram na possibilidade da "paixão não correspondida"?
É que tanto ódio dá que pensar...
Mas que tipo de paixão? Masculina ou feminina?
Anónimo das 04:15:
Deixo ao critério do que a sua imaginação lhe sugerir...
Este petulante olha só para o umbigo e está convencido que os portugueses têm os olhos postos na Marmeleira.
Ainda dão visibilidade a esse pantominas ?????
«Felizmente, em casos menos graves, o alienado procura canalizar as obsessões para causas nobres»
Como as do Aeroporto de Beja e outros extraordinárias empreendimentos: Euro 2004 e o que se vai vendo...
JB
Um perdedor nato, a loira do regime
O filosofo da Marmeleira está muito curvado e tem os olhos mesmo em cima do Umbigo.
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