sábado, dezembro 19, 2009

A perplexidade de Saraiva ou breve tratado sobre a pirataria

Desde as memórias que escreveu acerca da sua longa passagem pelo Expresso, nas quais confessava que as manchetes do semanário eram um produto da sua prodigiosa imaginação, todos sabemos que o pequeno grande arquitecto tem uma relação complicada com a realidade.

Ontem, José António Saraiva apareceu muito indignado, nas páginas do luminoso Sol, com os “casos” a que ele chama corrupção, associando-os ao regime democrático: “julgo que em democracia a corrupção é inevitável.” É verdade que a jovem democracia portuguesa, a cuja evolução ele, enquanto director de um semanário de referência durante cerca de duas décadas, está indissoluvelmente ligado, regista várias patologias, que incluem a corrupção e o tráfico de influências.

O que espanta é Saraiva só agora ter descoberto que em democracia estas práticas acontecem. Mas que em ditadura também — e se o pequeno grande arquitecto conversasse com o seu tio sobre as peripécias que aconteceram no Estado Novo, já teríamos no prelo um potencial best seller.

A grande diferença é que em democracia existe uma imprensa livre e uma opinião pública informada que podem denunciar e discutir tais situações.

É certo que isto pode não impedir que certos “casos” sejam abafados ou tardiamente conhecidos, como o que sucedeu no BCP — embora ninguém duvide de que, se o pequeno grande arquitecto tivesse tido conhecimento deles, não hesitaria em os denunciar, não se deixando condicionar pelas ligações financeiras àquele banco.

1 comentário :

Anónimo disse...

E o luminoso sol tem alguma coisa a ver com malta do BPN?