Desde as memórias que escreveu acerca da sua longa passagem pelo Expresso, nas quais confessava que as manchetes do semanário eram um produto da sua prodigiosa imaginação, todos sabemos que o pequeno grande arquitecto tem uma relação complicada com a realidade.
Ontem, José António Saraiva apareceu muito indignado, nas páginas do luminoso Sol, com os “casos” a que ele chama corrupção, associando-os ao regime democrático: “julgo que em democracia a corrupção é inevitável.” É verdade que a jovem democracia portuguesa, a cuja evolução ele, enquanto director de um semanário de referência durante cerca de duas décadas, está indissoluvelmente ligado, regista várias patologias, que incluem a corrupção e o tráfico de influências.
O que espanta é Saraiva só agora ter descoberto que em democracia estas práticas acontecem. Mas que em ditadura também — e se o pequeno grande arquitecto conversasse com o seu tio sobre as peripécias que aconteceram no Estado Novo, já teríamos no prelo um potencial best seller.
A grande diferença é que em democracia existe uma imprensa livre e uma opinião pública informada que podem denunciar e discutir tais situações.
É certo que isto pode não impedir que certos “casos” sejam abafados ou tardiamente conhecidos, como o que sucedeu no BCP — embora ninguém duvide de que, se o pequeno grande arquitecto tivesse tido conhecimento deles, não hesitaria em os denunciar, não se deixando condicionar pelas ligações financeiras àquele banco.
1 comentário :
E o luminoso sol tem alguma coisa a ver com malta do BPN?
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