Que é feito de si, Dr. Borges?

Ninguém diria que António Borges é ainda um dos vice-presidentes de Ferreira Leite, tão ausente tem estado da São Caetano desde os finais de Setembro. Mas, felizmente, o homem que, mais tarde ou mais cedo, há-de salvar o Universo (e, em princípio, também Portugal) lá vai aparecendo para nos dar conta da evolução da sua percepção da maior crise internacional dos últimos 80 anos.

Hoje, lendo o caderno Economia do Expresso (p. 3), fica-se a saber o seguinte:

“Para o economista [António Borges], o principal responsável pela crise foi a política monetária e o acesso ao crédito a preços baixíssimos, de forma quase ilimitada. Borges admite falhas de regulação, excessos e abusos na remuneração dos administradores da banca, na criação de produtos sofisticados e no uso do subprime (crédito hipotecário de alto risco).

Mas considera que o cerne do problema foi a bolha especulativa criada pelo crédito barato.”

O tempo, esse, é, de facto, o grande mestre. Com efeito, António Borges já não olha, aparentemente, para o subprime como uma das melhores inovações dos últimos anos. E para quem esteja recordado das suas periódicas lições ao povo através dos media, até se pode surpreender de o ver, agora e de um só fôlego, clamar por uma maior regulação do sistema financeiro ou denunciar os abusos praticados pelos administradores da banca. Enfim, quando a chave do negócio é aparecer, ninguém pode levar a mal que a coerência não seja um valor muito estimado.