quinta-feira, janeiro 28, 2010

“Cinco anos de políticas erradas”, diz Frasquilho

Miguel Frasquilho disse hoje que o Orçamento do Estado para 2010 é o "corolário de cinco anos de política errada", destacando que o valor do défice previsto é o segundo maior da democracia portuguesa.

Vamos lá ao que interessa: estar preocupado com as contas públicas nacionais e com a capacidade futura da economia para voltar a crescer é uma preocupação legítima, aliás. Outra coisa muito diferente é ignorar que esta situação decorreu como resposta à maior recessão que a Europa viveu desde os anos 1930. E se ela não foi, efectivamente, tão grave com a dessa época, foi porque os Estados responderam de forma rápida e agressiva — com um preço, naturalmente: o aumento do défice e da dívida pública em todos os países. Isto não é rocket science nem ciência oculta.

Por isso, ignorar que os números que conhecemos hoje relativos às finanças públicas são o resultado inevitável de políticas que permitiram evitar a catástrofe sócio-económica é profundamente desonesto, política e intelectualmente.

Seria aconselhável o Dr. Miguel Frasquilho olhar para alguns valores internacionais. Por exemplo, as previsões de Outono da União Europeia, publicados no passado mês de Novembro:



Em todos os países aqui listados, a dívida pública subiu em 2009 — e na maioria subiu muitíssimo. Para Portugal, inclusive, o valor previsto para 2009 era mais alto (77,4%) do que o Governo forneceu ontem (76,6%).

Se Frasquilho acha que estes valores são uma coincidência, só podemos concluir que as suas capacidades de análise estão profundamente toldadas. É que a globalização das economias — real — não serve só para fazer avisos sobre os desafios da competitividade; ela é também essencial para perceber porque é que a redução da actividade produtiva e comercial contagia economias altamente interdependentes. É que, quando países como Alemanha e a Espanha tossem, Portugal espirra.

Quando convém, Frasquilo raciocina como se a economia portuguesa tivesse as fronteiras fechadas e o que se passa lá fora fosse absolutamente irrelevante.

Miguel Frasquilho fala, pois, de “cinco anos de políticas erradas”. Talvez convenha reavivar a sua memoria, recordando ao deputado foi este primeiro-ministro e este ministro das Finanças que:
    • Reduziram o défice deixado pelo governos PSD/CDS em 2005 (provocado, convém lembrar sempre, enquanto a Europa e os nossos parceiros comerciais cresciam, ou seja, o oposto do que aconteceu em 2009);
    • O fizeram de forma atingir o valor mais baixo da democracia (2,6%) um ano antes do previsto (2007 e não 2008), quando o mesmo Dr. Frasquilho entretinha os media com os os seus momentos Maya, jurando a pés juntos que não seria possível reduzir o défice;
    • Estabilizaram, durante este período, a dívida pública – 63,6% em 2005 e 2007, antes de subir um pouco em 2008, ano onde se sentiu o primeiro forte impacto da crise —, que havia subido durante todos os anos da coligação PSD-CDS.
Receber agora lições de consolidação orçamental da parte do Dr. Frasquilho? Valha-nos São Caetano.

2 comentários :

Anónimo disse...

The Associated Press January 27, 2010, 11:56AM ET text size: TT
Portugal, mired in debt, rejects Greece comparison
By BARRY HATTON

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(...)
Portugal, a country of 10.6 million people, is western Europe's poorest country despite receiving billions in European Union development aid since joining the bloc in 1986. Its economy was faltering even before the current global economic downturn, growing on average less than 1 percent over past 10 years in its worst performance since the early 1900s.

José António Salcedo disse...

Desde San Francisco, olhar para o vosso comentário neste post faz-me sorrir com alguma tristeza, tão revelador que é da falta de qualidade da nossa governação e dos seus porta-voz.

Cresçam, senhores. E ganhem juízo.