sábado, fevereiro 20, 2010
Os óculos bifocais de Pacheco
Pacheco Pereira é um verdadeiro case study que nos permite compreender um fenómeno psicológico muito complexo. Aparentemente inteligente, Pacheco, já na idade madura, foi capaz de acreditar em coisas tão absurdas como a santidade de José Estaline ou as virtudes da democracia popular albanesa.
Com a mesma facilidade com que acreditou nesses dogmas, traça hoje crenças de sinal oposto, sempre impregnadas de fanatismo, próprias de quem usa lentes bifocais: as que servem para ver ao perto os correligionários são benevolentes e compreensivas; as que se destinam a ver ao longe os inimigos reais ou putativos são grossas e implacáveis.
Os exemplos desta bifocagem de Pacheco são mais do que muitos. Se alguém se atreve a criticar a participação de uma assessora do Presidente da República na campanha do PSD, Aqui d’El Rei!, porque está em causa uma falta de respeito ao supremo magistrado da nação. Se uma pessoa qualquer fica espantada pela desenvoltura que um assessor do Presidente da República exibe na montagem de intrigas nos jornais, fica completamente demonstrada, aos olhos de Pacheco, a asfixia democrática e a vontade de controlar a comunicação social por parte do PS.
Mas os critérios usados para avaliar o “outro lado da barricada” são bem diferentes… Veja-se, por exemplo, o que se passa com este blogue e com o Simplex (logo ele que fez parte do blogue Jamais). Devo reconhecer, por dever de gratidão, que Pacheco fez mais pelo CC do que todos os meus amigos e conhecidos. Não propriamente pela audiência que tem, em especial naquela deprimente tele-escola de domingo, mas porque conseguiu que a direita e uns certos mentecaptos da extrema-esquerda fizessem sua a agenda do filósofo da Marmeleira. E foi assim que alguns crédulos se convenceram de que pessoas ligadas aos gabinetes ministeriais contribuiriam para o CC.
Mas Pacheco está muito enganado (e ele sabe-o…). Não trabalho para o Governo e aquilo que me leva a manter a discrição é não gostar, ao contrário do que sucede com ele, da ribalta. Não pertenço à classe dos pavões!
Obviamente, não posso garantir que nunca-jamais-em-tempo-algum alguém que trabalhe ou tenha trabalhado em gabinetes ministeriais me tenha enviado um e-mail, manifestando uma opinião. Eu não faço discriminações e já recebi, de resto, e-mails de militantes do PSD, alguns deles figuras públicas, dando-me conta dos seus pontos de vista. E, entre eles, posso garanti-lo a Pacheco, há muitos que o topam tão bem como eu.
PS — Neste frenesim de ataques a Sócrates, ainda há coisas que me surpreendem. Então não é que Mário Crespo criticou José Sócrates e acusou-o de censura por nunca ter acedido em ser entrevistado por ele (naquele espaço indigente em que, nos melhores dias, tem 40 mil telespectadores)?
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7 comentários :
Se o "KOBAS" fosse vivo o pacheco não viveria para contar as palermices que por aí debita. O homem está mesmo vidrado, será do chá de ervas que enfia pela gaganta funda?
Não queria acreditar quando na Quadratura do Círculo, sobre o facto de o PGR dizer que nas escutas transparecia que o PM ignorava o negócio da PT, esta luminária tenha insinuado que o PM, sabendo que estava a ser escutado, estava a fazer teatro. Que diabo, mesmo sendo simpatizante do PS, nada me custa a crer que as habituais tentações de controlo tenham existido, sem os contornos escandalosos que nos querem empurrar. Com o tipo de argumentação do Pacheco, as escutas provam tudo se ele gostar, e não provam nada no caso contrário. Estou doido, está ele, ou estamos todos?
Só reformado e já hospitalizado, ele nem se apercebe de quanto está doente, a SIC ainda não analisou o que se passa com este comentador!!!
Doente, muito doente, já para a reforma, e procurar ajuda médica, a psicologia ainda o pode ajudar, como é que a SIC ainda não viu que tem pelo menos 2 (dois) jornalistas tão doentes!!!
Mário Crespo? Já nao vale a pena. Levava um cinto de nano explosivos nos neurónios e automutilou-se naquela Comissão de Ética. Balsemão tem agora um problema de seriedade mais grave para resolver na SIC, sem correr riscos de coartar a Liberdades.
Pacheco é inteligente, mas só isso...
tem um ego do tamanho do mundo,
vive numa teia de mesquinhos objectivos de reconheciemnto pessoal
q aquela sua inteligencia acrescida da sua falta de caracter permitem tecer,
com uma frivolidade e pouca vergonhice lamentaveis...
Crespo, poupem-me que não vale senão o que a conjuntura lhe permite dançar...
abraço
DO ALTO DO MONTE-CONTO
... Pacheco deixa arrastar a âncora, perde o norte e encalha. Com a água pelo pescoço, agita-se freneticamente, mas não pede ajuda. Da sua boca, houve-se, disparadas, as palavras: «....Sócrates maldito... Corrupt… Soc.... glu.... glu.... gl....». Depois, silêncio. Do alto do monte, o velho assiste à cena e abana a cabeça. Um pensamento, todavia, absorve-o... nunca mais acabam com a publicidade no canal público… «Comenda!!!», berra, olhando ligeiramente por cima do ombro. O fiel amigo, ouvindo a voz do dono, aproxima-se correndo nas quatro patas e agitando a cauda num frenesim. O velho pousa a mão direita sobre a cabeça do cão e faz-lhe distraidamente uma festa. «Comenda...» diz novamente... … agora que a golden share vai à vida, o Belmiro pode outra vez tentar vender aquilo aos bocados e fazer uma pipa de massa,» e conclui com tristeza... «O país afunda-se». O rafeiro desanimado volta a deitar-se em cima do jornal. O velho cogita. A vida passou depressa. Como num filme agitado, imagens apressadas percorrem-lhe o pensamento. Olha novamente para o sítio onde desaparecera Pacheco. Nunca gostara muito dele. A situação piorara depois daquela insistência obsessiva com que alimentara os ódios dela e a conduziu àquela derrota estrondosa. Olhou demoradamente para o mastro que boiava no sítio do naufrágio. Julgou ver um objecto que emergia. Semicerrou os olhos, concentrando-se na imagem. Pareceu-lhe ver um dedo espetado, depois um punho e, finalmente, o corpo de Pacheco emerge de rompante à superfície separando as águas com estrondo. O mar devolvia Pacheco à vida. Os pulmões de Pacheco congestionados recusam-se a aceitar o sopro da vida. Pacheco estrebucha e consegue, num ronco cavo, começar a respirar. Os olhos arregalados percorrem a costa em redor, ávidos de vida. De repente, Pacheco avista o velho no alto do monte, e, na sua agitação, confunde-o com Deus. Não era Deus, longe disso, mas, para Pacheco, aqueles cabelos desgrenhados e a cara bexigosa personificavam o Criador e o milagre do seu regresso à vida. O mastro arrastado pela corrente dá à costa e, com ele, Pacheco. Sentindo terra firme, Pacheco beija a rocha e enterra fundo as mãos na areia. De repente, ouve uma voz. Era uma voz sem som, que se lhe cravava no cérebro. Uma voz simultaneamente maternal e paternal, que lhe fazia lembrar recordações de infância. Maternal porque o aconchegava, o acarinhava e lhe dava segurança. Paternal porque se tornava rapidamente exigente, não lhe dava espaço para solilóquios e o encurralava. Esta era mesmo a voz de Deus. “Pacheco”, disse a Voz, “Eu amo todas as coisas, vivas ou inertes. A uma espécie dei consciência e responsabilidade. Nesta espécie não dei a todos as mesmas condições de vida. Tu nasceste privilegiado, com carinho, bens materiais e numa família de antigas tradições. Cresceste e fizeste-te homem. No meio onde vives, foste considerado e admirado por fazeres muitas concessões à liberdade de pensamento e, fartas vezes, sorri quando abocanhavas aquele teu correligionário mulherengo.” Mas”, continuou a voz, “algo explodiu dentro de ti e, de repente, dei contigo a vociferar, escumar e arrastar a barriga pela lama. Pacheco, Eu não te fiz réptil! Devolvi-te a vida. Sê Homem.” Pacheco chorou primeiro silenciosamente, depois convulsivamente, mas o rosto resplandecia. O choro era de alegria, e murmurou: “Deus é grande”. E, na costa, vinda não se sabe de onde, espraia-se a Ode à Alegria do compositor surdo.
Publicada por Bettencourt de Lima em 10:16
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