Fale-se do que se falar, as conversas acabam todas na discussão da “competitividade”: nos cafés, no parlamento, nos debates na televisão. A gente não sabe exactamente o que é, mas a expressão facial dos intervenientes indicia que a coisa é grave — e, pior ainda, que não tem remédio.
Entretanto, há quem estude e chegue a conclusões interessantes. É o caso de Manuel Caldeira Cabral, professor do Departamento de Economia da Universidade do Minho, que nos informa de que a estrutura da economia portuguesa revela mudanças significativas, designadamente para dar resposta aos choques externos (Ásia e alargamento a Leste), de tal modo que a grande maioria das exportações já não é composta por bens de baixa tecnologia e carradas de mão-de-obra.
Vale, por isso, muito a pena ler o que Manuel Caldeira Cabral diz num artigo intitulado Crónica de uma competitividade anunciada.
1 comentário :
Artigo simples, didáctico e informado. Tudo junto numa palavra: Brilhante!
De facto há 4 factores essencias na famosa década perdida da economia portuguesa, sendo que três deles têm um impacto directo na produtividade.
- A liberalização do comercio mundial, com a adesão da China à OMC e o fim do acordo multifribas;
- A adesão à UE dos países do leste europeu;
- A adesão de Portugal ao euro;
- A reorganização da actividade de muitas empresas multinacionais que optaram por recentrar as suas operações na península em Espanha, dado que com a entrada no euro terminaram os custos cambiais.
Das 2 primeiras versa o artigo em causa de forma eloquente, pelo que não vale a pena dizer mais. Apenas para lembrar que para a generalidade dos economistas liberias, parece que tais realidades nunca existiram ou que aconteceram há muito, muito tempo, talvez na pré-história.
Do impacto da adesão ao euro na produtividade nacional toda a gente fala e é até de certa forma o assunto do momento, com todos a discutirem se será necessário ou não um corte salarial. De resto o artigo aflora também esta questão.
A 4ª razão parece esquecida de todos, mas se é verdade que ela está hoje em dia praticamente esgotada, visto que os movimentos de deslocalização industrial e comercial para Espanha são hoje residuais, é bom não esquecer que durante vários anos eles pesaram e de que maneira no declínio da actividade económica.
Acresce ainda que todos estes factores foram praticamente contemporaneos uns dos outros, pelo que o seu impacto na economia dificilmente poderia ter sido tão formidável como foi.
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