- ‘Os falcões do sector financeiro afirmam que os governos devem centrar-se na eliminação dos défices, cortando de preferência na despesa. Défices reduzidos reporiam a confiança e o investimento - e por conseguinte o crescimento. Mas por mais plausível que este raciocínio possa parecer, a evidência histórica tem vindo a refutar isto repetidamente.
Quando o presidente norte-americano Herbert Hoover tentou essa receita, ajudaria com isto a transformar o ‘crash' da bolsa de 1929 na Grande Depressão. Quando o Fundo Monetário Internacional tentou a mesma fórmula no Leste Asiático em 1997, o abrandamento passou a recessão e a recessão a depressão.
O raciocínio por trás destes episódios assenta numa péssima analogia. Uma família que deva mais dinheiro do que aquele que consiga amortizar terá que reduzir na despesa. Mas, quando um governo faz isso, a produção e o rendimento baixam, o desemprego aumenta e a capacidade de amortização pode baixar. Mas o que se aplica a uma família não se aplica a um país.
Os partidários do sistema financeiro avisam que o despesismo do governo contribui para o aumento das taxas de juro, "afastando" assim o investimento privado. Esta preocupação é legítima quando uma economia está numa situação de pleno emprego. Mas não agora: dadas as taxas de juro extremamente baixas a longo prazo, nenhum economista no seu perfeito juízo se atreve a levantar a questão do "afastamento do investimento".
Na Europa, nomeadamente na Alemanha, e em algumas partes dos EUA, à medida que os défices estatais aumentam, aumentam também os apelos no sentido de uma maior austeridade. Se forem ouvidos, como parece ser o caso em muitos países, os resultados serão desastrosos, sobretudo tendo em conta a fragilidade da recuperação. O crescimento abrandará e a Europa e/ou a América possivelmente voltarão a entrar em recessão.’
Sem comentários :
Enviar um comentário