terça-feira, agosto 03, 2010

De manhã, sou assistente no processo; à tarde, sou jornalista

O país que lê jornais ainda está de boca aberta: o jornalista José António Cerejo constituiu-se assistente no processo Freeport e toca a escrever artigos jornalísticos (e não de opinião) para o Público. Ora, como se estabelece no artigo 71.º do Código de Processo Penal, “os assistentes têm a posição de colaboradores do Ministério Público”, devendo “intervir no inquérito e na instrução, oferecendo provas e requerendo as diligências que se afigurem necessárias”.

Não podendo obviamente, de acordo com o Estatuto dos Jornalistas, tratar de assuntos em relação aos quais é parte interessada, José António Cerejo viu-se na obrigação de dar uma explicação aos leitores. Fê-lo ontem, no Público.

Ao procurar fechar a porta de que está a infringir o Estatuto dos Jornalistas, Cerejo escancara uma outra porta, confessando que está a manipular a figura do “assistente”: “Tornei-me assistente para garantir que a informação chegaria aos leitores do PÚBLICO.” E para que não restassem dúvidas, o jornalista explica-se por que se tornou assistente: “Não o fiz com a finalidade, que seria perfeitamente legítima a qualquer cidadão, mas que entendo ser incompatível com as minhas obrigações deontológicas, de intervir no processo graças ao estatuto de assistente. Não o fiz para me tornar parte interessada na investigação, para contribuir com informações, requerimentos de diligências ou com uma acusação particular. Não o fiz para recolher e divulgar informação que estivesse em segredo de justiça, a que aliás não tive nem podia ter acesso pelo facto de ser assistente no processo.”

Perante esta situação grotesca, pergunta-se:

• Ainda existe a Comissão de Carteira Profissional de Jornalista?
• A actual direcção do Público mantém a autorização dada pela anterior direcção do jornal para o recurso a estes métodos vergonhosos para se obter informação, as mais das vezes truncada e distorcida?
• O sistema judicial vai continuar a tolerar situações em que o próprio confessa estar a manipular a figura do assistente?

11 comentários :

os pulhas disse...

Gobles não faria melhor. O sr. cerej?eira é um canalha fascista que só existe porque em portugal a justiça esta em roda livre.Como por exemplo: Pode-se, roubar, matar, degolar, assassinar, bater na mulher,não cumprir como mandar as leis pra lixeira e todo o mais que nos de na real gana,com a justiça(?)assobiar pro lado, não cumprindo ele as leis da republica.

Lázaro disse...

Só há duas pessoas a quem já se pode fazer essa pergunta, uma veza que o descredito nas instituições é completa: ao ministro da justiça (ou também não manda nada?)e ao Presidente da republica, garante do respeito pela Constituição da República (ou demitiu-se das sua funções depois da inventona de há um ano?)

Anónimo disse...

E informaçao está truncada? Como sabe? Tem acesso aos dados do processo que estejam em segredo de justiça?

Anónimo disse...

a filha-da-putice confessada.

james disse...

Onde é que está o interesse pessoal, directo e legítimo do Sr. Cerejo para se constituir assistente?

Mcoutinho disse...

O Cerejo,nem dá para por no bolo. Por estes métodos utilizados no Público, propriedade da Sonae, imagino agora, o que não foi a luta da Familia Pinto de Magalhães,anterior propriétária dessa empresa....

Anónimo disse...

E que diz a Direcção e o Conselho de Redacção do Público sobre o método Moura Guedes utilizado pelo sr. Cerejo?
A Comissão de Carteira Profissional de Jornalista também não deveria pronunciar-se?
Pouco falta para alguns magistrados assinarem artigos do Freeport e os senhores Cerejos/Guedes/Cabritas passarem a investigadores do MP...
Atenção: PÚBLICO passou agora a Ministério PÚBLICO?

Luis Ribeiro disse...

Acabou por fazer um grande favor ao PM. Com a menção das tais 27 perguntinhas que o MP não teve tempo de fazer durante todos estes seis anos, acabou por criar um reboliço tal que, ao contrario do que pretendia o jornalista, pôs a nu o ridiculo da actuação dos procuradores do freeport e conseguiu reunir o consenso de todos os partidos politicos no que diz respeito ao degredo que reina hoje em dia no MP. O alvo era Sócrates mas quem hoje está sob as luzes dos holofotes é, não só o próprio jornalista que sentiu a necessidade de se "justificar", mas também toda a instituição do MP. Obrigado Cerejo!

Graza disse...

É ainda a mesma choldra de que o Eça falava. Não nos faltam chicos espertos a saber aproveitar os buracos da lei, uns vão cadilhando património imobiliário, outros cadilhando a justiça, outros o jornalismo. O Eça continua actual.

Miguel Bombarda disse...

A cruzada de Cerejo contra Sócrates remonta a Fevereiro de 2001:

http://static.publico.clix.pt/docs/politica/SocratesopinCerejo.pdf

Na altura, o grande repórter intentou uma acção contra o primeiro-ministro, pedindo a condenação do réu ao pagamento de uma indemnização de 25.000 euros, por entender que com a carta se procurou manchar, perante a opinião pública e a classe política, o seu bom nome.

9 anos depois é uma cruzada desgastada e desesperada, capaz de recorrer a todos os meios para 'salvar o seu bom nome'.

Anónimo disse...

Esta teia de viscosidades entre jornalistas como o Cerejo, procuradores do ministério público, sindicato dos magistrados - esse incontornável Palma -, e fazedores de opinião - o Pacheco Pereira fica bem aqui - estão a destruir a justiça e a comunicação social. Ou será que não lhes passa pela cabeças obstinadas o impacto que esta cruzada do Freeport tem no cidadão comum? Não se admirem se um dia surgir alguém com um discurso moralizador, salpicado de teses totalitárias.