quarta-feira, setembro 29, 2010

A vírgula

• Rui Tavares, O diabo está, nos detalhes (no Público de hoje):
    (…) José Sócrates foi, já se sabe, dar uma palestra sobre energias renováveis à Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Exprimiu-se lá num inglês alquebrado, que ele próprio descreveu no começo da sua fala, como "mau inglês". O vídeo da palestra, que está disponível na Internet e foi difundido pelas televisões, expôs Sócrates à impiedade dos seus críticos. Pacheco Pereira opinou neste jornal sobre o assunto; no seu blogue iniciou um post da seguinte maneira: "A mediocridade de Sócrates quando tem que defrontar o exterior sem guião, é visível com todo o seu esplendor na conferência universitária em Columbia". O blogue 31 da sarrafada, da direita por uma vez voluntariamente humorística, fez uma compilação em vídeo das "calinadas" de Sócrates, legendando-as com cuidados extremosos de professora do Instituto Britânico. O clip revoou imediatamente pela Internet e, na opinião de muita gente, expôs Sócrates ao ridículo.

    Não percebo porquê. O inglês de Sócrates é mau? Sim, bastante. No entanto, já ouvi pior. Uns quilómetros abaixo da Columbia, na City University of New York, o grande Ottavio di Camilo falava um inglês tão macarrónico que preferia, sempre que possível, falar com os seus alunos em espanhol. Se bem que italiano de nascimento e residente nos EUA há décadas, era especialista em Cervantes, no Lazarillo de Tormes e na Comedia "La Celestina". O seu delicioso inglês - híbrido de vendedor de chapéus de sol na Calábria e de gangster num episódio dos Sopranos - nunca o impediu de ser diretor de departamento nem um dos melhores professores na sua área. O inglês de Sócrates é mau; mas o meu inglês, num dia mau, talvez não seja melhor. E não é por isso que deixarei de o usar.

    A tolerância ao mau inglês é um dos elementos em que a sociedade norte-americana é superior, não tenho dúvida, a muitas europeias. Os americanos preferem ter aulas com um grande físico ou um grande filósofo a exigir que ele fale um inglês perfeito. Já os franceses, que no tempo em que a sua língua era grande não se incomodavam com as pronúncias de romenos como Tristan Tzara ou espanhóis como Picasso, tornaram-se hoje chatos, chatos e irritantes. Corrigem os estrangeiros a cada passo, mesmo que sejam eles mesmos incapazes de dizer uma palavra em português ou espanhol, qualquer delas uma língua mais falada no mundo. E isso faz da sociedade deles mais pobre, e da americana mais rica.

    (…)

    A opinião de Pacheco Pereira é, na verdade, das mais provincianas e atávicas inimigas da comunicação. Não haveria mal nisso, se ao menos não a tivesse escrito num português que está entre o miserável e o sofrível. Como se vê na frase acima, poderia ao menos aprender a usar as vírgulas.

9 comentários :

Ganda Santana disse...

Ao que chegou o Manuel Abrantes: até já cita um artigo do Rui Tavares! Se o PS já casou com o BE nos casamentos Homo e nos TGV ainda tentará aliar-se com ele! Mas o Miguel ainda não percebeu que o Sócrates já foi...

os pulhas disse...

Vir de quem vem as maldicencias, por alguem não se exprimir adequadamente em inglês, são elogios e louvores.

Mas ao mesmo tempo, mostra a natureza perne de gente malvada que vive só para tramar e ajuizar os outros, esquecendo-se da mediocridade instalada nas suas cabeças já em graus de senilidade avançada.

Quanto mais estupidos e bastardos, maiores são os graus de inveja nos corações dos homens de má vontade.

Socrates dá-lhes pela barbatana e chega para eles todos, venham de onde vieram: esquerdistas, fascistas,comunistas e oportunistas.

Anónimo disse...

ó ganda santana, ainda vais ter que aturar o sócrates mais uns tempos, para degraça da tua carola já delirante. o santana esse é que, coitado, foi logo.

Anónimo disse...

É ler o Eça, a "Correspondência de Fradique Mendes", lá quando ele diz que devemos falar ostensivamente mal a língua dos outros, mas usar a nossa com total correcção. Não é manifestamente o caso do Pacheco.

A.R. disse...

Sócrates disse o que tinha a dizer e creio que todos o compreenderam. Ninguém estava ali para ouvir um erudito em língua inglesa mas um político que tem ganho consideração internacional em energias renováveis. Foram pontos a favor de Portugal que ninguém pode ignorar, até aqueles que não o podendo ignorar se atrelam à sua habitual má língua, em português.

Anónimo disse...

Mas esta pessoazinha, que se chama Pacheco Pereira,tem-se na conta de que é alguém? Dá vontade de rir! As distâncias medidas no espaço não se contam em kms, mas em anos-luz.Um ano-luz é igual a 10 mil biliões de kms.Até onde os telescópios alcançam, vai uma distância de 14 mil milhões de anos-luz.E, eu pergunto: quem é esse senhor?:O mesmo número de zeros `a esquerda!!!!!!Desse ser tâo minúsculo, pode sair alguma coisa de jeito?!!!!

Joana disse...

O que o Sócrates tinha que fazer era governar bem Portugal. Falar uma língua estrangeira na perfeição não é algo que interesse de todo a uma nação e apenas serve de entretenimento aos medíocres. Até parece que o Zapatero, Sarkozy, Berlusconi se preocupam imenso por falar inglês... mas é o país que temos, que faz tudo pelo circo.

Anónimo disse...

oh filha! percebe-se melhor o socas em inglês que o cavaco em português

31 da Sarrafada disse...

É necessário ensinar aos Srs. a fazer um link back?
Pelos vistos sim. Os vossos conhecimentos de html são tão profundos quanto o inglês técnico do vosso timoneiro.