terça-feira, outubro 26, 2010

Leituras

• Robert Skidelsky, As guerras da austeridade:
    Estou cada vez mais pessimista face às perspectivas de rápida recuperação da recessão global.

    As políticas de expansão orçamental (5 biliões de dólares) coordenadas pelos principais governos mundiais evitaram o colapso da economia mas não conseguiram gerar uma recuperação saudável. A actual frustração foi resumida na recente capa da revista “The Economist”: “Grow, dammit, grow.”

    Há duas razões principais para estar pessimista. A primeira é a retirada prematura das medidas de “estímulo” económico aprovadas na cimeira do G20 em Abril de 2009 em Londres. Os principais países estão agora a realizar cortes drásticos dos défices orçamentais.

    A segunda razão é que nada tem sido feito para resolver o problema dos desequilíbrios da conta corrente. De facto, os actuais comentários sobre guerras cambiais que levam a guerras comerciais recordam a desastrosa experiência dos anos 30.

    O problema dos desequilíbrios da conta corrente está estreitamente ligado com a existência de um excesso de poupanças a nível mundial. Uma parte do mundo, liderada pela China, ganha mais do que gasta, enquanto outra parte, em especial os Estados Unidos, gasta mais do que ganha. Desde que os países excedentários invistam nos países deficitários, estes desequilíbrios não representam um problema macroeconómico.

    De facto, este era o padrão do século XIX. Um sistema de investimentos estrangeiros, centrado em Londres, canalizava as poupanças dos países ricos (ou excedentários) para os países pobres (ou deficitários). Apesar das muitas crises financeiras e de incumprimento, no geral, esta relação credor-devedor funcionava para benefício das duas partes. Os investidores dos países ricos ganhavam taxas de retorno mais elevadas do que em casa e os receptores dos países pobres obtinham o financiamento que precisavam para se desenvolverem. Não existia uma tendência persistente para a deflação.

    O actual sistema é superficialmente semelhante mas com uma diferença crucial: o fluxo de poupanças ocorre agora dos países em desenvolvimento como a China para os países ricos como os Estados Unidos – ou seja, de países onde o capital é escasso para países onde ele é abundante. O excesso de poupanças globais é o resultado desta relação perversa.

2 comentários :

Luís Lavoura disse...

Não vejo em que é que a diferença referida no último parágrafo tenha qualquer importância. O sistema funciona na mesma.

O problema crucial que não é focado neste texto é o preço muito elevado da energia (i.e. do petróleo) atualmente. Essa é a chave para entender por que é que as economias avançadas não crescem mais.

tempus fugit à pressa disse...

Desde que os países excedentários como a França em 1888 invistam nos países deficitários,
como a Rússia desde 1888 a 1917estes desequilíbrios não representam um problema macroeconómico.

Só tem um problemazinho, é que quando os devedores deixam de pagar, tal como em 1917 milhões de pequenos aforradores caem na ruína.


E uma China espoliada durante 200 anos pelos demónios estrangeiros e asfixiada economicamente por estes, é capaz de não ir na cantiga.