terça-feira, novembro 02, 2010

Há alguém, para além da tralha cavaquista, que se reveja em Cavaco?

• José Vítor Malheiros, A austera, apagada e vil tristeza da retórica (hoje no Público):
    É difícil escrever isto, porque toda a gente vai pensar que a minha opinião se deve apenas ao facto de não concordar com as ideias do homem (não é verdade que ele não tenha ideias. Tem. São ideias simples, tacanhas e egoístas, ideias pequeninas, mas tem). E vão pensar que a minha ausência de simpatia me tolda o espírito crítico. Apesar disso, correndo o risco de não ser acreditado, arrisco-me a garantir que a minha avaliação é eminentemente técnica. E é dessa perspectiva que avalio o discurso de recandidatura de Cavaco Silva como uma das peças retóricas mais tristes que já me passaram pela frente.

    Podem pensar que isso me compraz, porque não vou votar no homem e nunca aderi às suas "ideias". Mas de facto, não. Teria gostado que um candidato à Presidência da República - em princípio a fina flor da política - nos mostrasse uma visão mobilizadora, um entusiasmo genuíno, capacidade de liderança, brilho intelectual, compreensão do mundo e das pessoas, uma viva inteligência e compaixão e conseguisse acender uma chama de esperança nos corações dos que o ouvem. Isso era o que teria gostado - mesmo que não fosse votar no homem. Isso dar-me-ia esperança. Mostrar-me-ia que a paixão da causa pública ainda pode atrair os melhores e que há na política aquele debate de ideias e de visões que gostamos de acreditar que pode garantir as melhores escolhas. Mas, em vez disso, apareceu-me Aníbal Cavaco Silva. Repito que o digo sem a mínima acrimónia. Com tristeza, com uma austera, apagada e vil tristeza, quase com desespero, mas sem acrimónia. Cavaco Silva poderia certamente ter sido um excelente contabilista, talvez um bom acordeonista e tenho todas as razões para pensar que é um exemplar pai de família. Mas que tenha sido ministro e primeiro-ministro e Presidente da República e que queira reincidir é algo que os portugueses não merecem.

6 comentários :

Sousa Mendes disse...

Será que o JVMalheiros vai continuar muito tempo como cronista no Público?
Tenho dúvidas! Não é que esteja a acusar de censura o Belmiro! Não! Estou a dizer que ele não vai resistir à pressão,- democrática claro - do Lima!

Anónimo disse...

Realmente é preciso ter a lucidez e a coragem de dizer isto.São poucos os que a têm,mas é preciso dizê-lo.Também acho que ele pode ser um bom pai de família,mas como Primeiro Ministro e Presidente da República foi e é um desastre.A termos, futuramente,a dupla governativa com Passos Coelho,passaremos a ter a pimbalhada ao serviço do País!!!!!

Anónimo disse...

Ainda que vindo de melhores famílias, o comentrista Marcelo apenas representa a outra face da mesma moeda.

de.puta.madre disse...

Confesso que nem de Longe me revejo em Cavaco. Contudo, entre Cavaco e a trastaria Jorge Sampaio nauseabundo ao limite do asco. Sempre Cavaco. É melhor ficar constrangido do que enojado. ( Sim. Sou 100% Augusto Santos Silva!! Confesso também. )

Anónimo disse...

Mário Soares foi o grande Presidente da Democracia Portuguesa. Foi pena não o termos eleito de novo há 5 anos.

mãos-do-tempo disse...

Meu Caro,

Concordo plenamente. Seria cómico, não fosse trágico, o que tem vindo a acontecer neste País, desde o famoso dia vinte e cinco...

A.