- ‘O que esta crise também revela é quanto pode ser frágil uma união monetária sem uma união económica. A Irlanda baseou o seu miraculoso crescimento económico da última década em impostos muito baixos para as empresas. Portugal no consumo interno. Madrid no boom imobiliário. A Alemanha na competitividade da sua indústria. A "harmonização" limitava-se às regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, aliás várias vezes violadas por todos os países. A crise mundial e o seu impacte brutal fez explodir um modelo que sobrevivia graças à prosperidade mundial e ao dinheiro barato. Diz de novo Fabio Liberti: "[para a Europa voltar a encontrar uma convergência de interesses] é preciso aumentar o peso da União Europeia na gestão dos orçamentos nacionais (...). Porque hoje temos uma moeda única mas não temos uma política económica convergente. A zona euro tem de se dotar dos instrumentos para relançar o crescimento interno (...). A criação de um fundo de socorro europeu é um primeiro passo. Mas podia também encarar-se a transformação de uma parte das dívidas nacionais em dívida europeia, cujas taxas de juro seriam menores".
Impossível? É esta precisamente a questão. Não se pode continuar nesta espiral de loucura, exigindo aos países endividados que aprovem programas de austeridade sobre programas de austeridade para acalmar os mercados, porque não é isso, ou pelo menos não é só isso, que os acalmará. A decisão é política.
Se não, de crise em crise, de pânico em pânico, de intervenção in extremis em intervenção in extremis, a Europa não sobreviverá.
Os países do Sul podem ficar à deriva na tempestade, como o quadro que inspira a capa da revista britânica (Le Radeau de la Méduse), e Merkel pode ser salva do naufrágio pelo helicóptero do BCE. Para quê? A Alemanha será uma média potência económica com meia dúzia de países na sua órbita e as regras do jogo serão ditadas noutros sítios. Em Washington e em Pequim.’
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