quarta-feira, dezembro 08, 2010

Como reage a direita ao PISA 2009?

Alexandre Homem Cristo escreve algumas notas sobre os resultados do PISA 2009. É verdade que a direita rompe o silêncio (por enquanto só na blogosfera), mas de uma forma muito torcida.

Primeiro, porque o autor é incapaz de admitir que o que escrevera noutros tempos — que a melhoria recente dos resultados nos exames nacionais corresponde a um avanço, do ponto de vista da qualidade da aprendizagem, meramente “artificial” — é falso. Se não o fosse, Portugal teria continuado o padrão dos PISA anteriores: de avanços um pouco aos soluços. Ora, a melhoria verificada é inequívoca. A tese do facilitismo está morta e o autor devia — como muitos outros — retirar as devidas conclusões do que andou a dizer durante anos a fio. Por muito que custe a muita gente, os alunos portugueses sabem mesmo mais.

Segundo, Alexandre Homem Cristo é incapaz de reconhecer que o que escreveu sobre as assimetrias sociais — “que a política facilitista de Sócrates (...) aumenta as assimetrias, aniquilando a igualdade de oportunidades entre os que podem recorrer às melhores escolas privadas e todos os outros” — é igualmente falso. Do ponto de vista da equidade, o sistema português melhorou bastante — e a OCDE sublinhou isso mesmo. Como mostra o primeiro gráfico, Portugal é o 6.º país da OCDE (10.º no total de países) cujo sistema educativo melhor corrige as assimetrias socioeconómicas, sendo um dos países com maior percentagem de alunos de famílias economicamente desfavorecidas que atingem excelentes níveis de desempenho em leitura.



Fonte [p. 65]


Não estranhamente, agora a preocupação parece ser com o desempenho dos bons alunos. Primeiro, o sistema não servia os pobres, agora parece que não serve as elites...

Alexandre Homem Cristo diz que nos resultados dos níveis de aprendizagem superiores do PISA (níveis 5 e 6) “não há grandes diferenças entre 2006 e 2009”. Em rigor, isto só se aplica à leitura: nos níveis mais elevados, o 5 e o 6, estavam 4,6% dos alunos em 2006, e 4,8% em 2009. Na matemática, apenas 5,8% dos alunos estavam nos níveis 5 e 6 em 2006, enquanto que em 2009 já são 9,6% (ver o segundo gráfico). Nas ciências, os valores respectivos são 3,1% e 4,2%.





A base é baixa, claro, mas, do ponto de vista percentual, os ganhos são em alguns casos superiores aos realizados em níveis inferiores. É preciso melhorar? É. A questão, porém, seria verdadeiramente grave se o maior sucesso dos alunos menos bons tivesse sido alcançado à custa dos melhores alunos — e isso não aconteceu. Se se está a “uniformizar” os desempenhos, está-se a fazê-lo por cima, e não à custa de ninguém.
    Contributo do Pedro T.

3 comentários :

sr. indivíduo disse...

Pode não ter a ver directamente com o assunto do "post", mas educação também é Estado Social.

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«Em entrevista ao jornal "Público" de hoje, o economista Daniel Bessa defende medidas drásticas para combater a crise da dívida pública e afirma que "a economia está a ser aniquilada pelo Estado social".

Daniel Bessa, economista e director-geral da COTEC (Associação Empresarial para a Inovação), disse ao "Público" que a intervenção do Banco Central Europeu foi benéfica para fazer subir o preço da dívida soberana portuguesa, mas "não podemos esperar que o banco central o faça indefinidamente".

Daniel Bessa fala ainda do Serviço Nacional de Saúde e diz ao jornal que "o Governo não pode controlar a despesa", explicando que Portugal foi o país europeu que mais cresceu nas despesa com saúde. O economista diz ainda que "a economia portuguesa (...) não consegue sustentar esse Estado social".»

In: "DN"

Este cavalheiro faz parte da comissão política do Prof. Cavaco.
Repito: COMISSÃO POLÍTICA. Pelo que se depreende que o Prof. Cavaco está em sintonia com esta perspectiva.

Anónimo disse...

Daniel Bessa não engana ninguém.Ele,Campos e Cunha,outros que foram corridos de Governos do PS,de que lado haviam de estar?

o rabino disse...

O Daniel Bessa até já foi militante do Pcp,e daquele "Armazém",pouco artigo tem saido sem defeito... O Campos e Cunha, foi um erro de casting,fugiu,por causa do salário..