O que Miguel Frasquilho não diz – talvez não se tenha apercebido de que “descrever” não é a mesma coisa que “analisar” – é que o desempenho dos países está em boa medida dependente da sua geografia: quanto mais próximos do motor económico da União Europeia – a Alemanha -, maior o peso das exportações no PIB. Podemos avaliar muito facilmente isto se correlacionarmos o peso das exportações no PIB que Frasquilho lista com um indicador simples de “proximidade ao centro”: os quilómetros que separam as capitais dos vários países da capital alemã, Berlim. É um indicador um pouco grosseiro, mas serve os propósitos deste exercício.
O que nos mostra o primeiro gráfico, que mobiliza os dados de 2010 que Frasquilho avança?
Mostra que a geografia conta mesmo: tendencialmente, os países mais próximos da Alemanha - a sublinhado estão os países que fazem com ela fronteira – têm um peso superior das exportações no PIB do que os países periféricos (o desempenho da Irlanda seria menos positivo se o peso “contabilístico” de algumas exportações fosse descontado).
Mais importante ainda, a geografia conta mais hoje quando do que no passado (2000), porque entretanto foi auxiliada pela política – isto é, pelo alargamento da União Europeia, que trouxe vantagem particularmente para os países que foram dele alvo, isto é, os do Leste Europeu. O R² do segundo gráfico, relativo aos dados de 2000, é substancialmente mais baixo que o do primeiro, o que nos diz que a proximidade ao centro passou a ser uma variável mais importante em 2010 do que em 2000, acentuando os efeitos da geografia.
O terceiro gráfico mostra-nos, de outro modo, essa mesma evolução: foram os países que estão mais próximos da Alemanha que mais aumentaram o peso das exportações no PIB (em pontos percentuais) entre 2000 e 2010.
O exercício de Miguel Frasquilho, ao ignorar elementos essenciais para compreender o problema, resume-se a mera politiquice. Talvez o autor fosse mais honesto se se tratasse de um relatório do BES…
As empresas e os trabalhadores portugueses merecem melhor.
- Contributo do Pedro T.
2 comentários :
Miguel Frasquilo é mesmo uma personagem peculiar. Mais para o dúbio, segundo o que revelam os seus relatórios de trabalho e o que diz do governo quando senta a peida na assembleia.
Agora fiquei mais descansado. O problema é da geografia logo não havia (não há) nada a fazer. Continuemos portanto.
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