segunda-feira, março 28, 2011

O retrato de um jovem desorientado

• Helena Garrido, Tirem-nos deste filme:
    'Irresponsabilidade, incompetência, partidarismo carreirista e mediocridade. São estas a características do que se pode dizer, de forma minimamente educada, sobre aquilo a que temos assistido durante os últimos quinze dias em Portugal.

    A última cena deste filme de terror de baixa qualidade - já não tem a dignidade de uma peça de teatro - é a eliminação da avaliação dos professores aprovada em tempo recorde pelos partidos da oposição, sexta-feira, na Assembleia da República. Deitou-se para o lixo mais de quatro anos de trabalho e persistência de uma das melhores e mais corajosa ministra da Educação que o país teve, Maria de Lurdes Rodrigues. Tudo porque os partidos de poder que estão na oposição, o PSD e de alguma forma o CDS, caíram na tentação bacoca de conquistar os eleitores que são professores. Devem pensar que não só o país mas também os professores são parvos. O acto da eliminação da avaliação dos professores é não só grave como tem um enorme valor simbólico. Vale mais do que milhares de análises sobre pelo menos duas décadas perdidas de tentativas de reformas estruturais. Os grupos de pressão em Portugal, principais responsáveis pelo estado em que o país se encontra, têm nos partidos os seus grandes aliados. Da construção que conseguiu que se fizessem estradas desnecessárias até à banca, justiça, saúde e educação, todos os protagonistas destes sectores manipulam com grande sucesso partidos políticos recheados de militantes anónimos que, na sua maioria, vivem à mesa do Orçamento do Estado e fazem tudo menos pensar nos interesses do país.


      Todo o processo que levou ao irresponsável "não" do dito PEC IV é mais um exemplo da irresponsabilidade e falta de sentido de Estado que enxameia nestes tempos as lideranças políticas. Os analistas dos bancos internacionais com quem o Negócios foi falando desde a Cimeira de 11 de Março tiveram grande dificuldade em compreender como foi possível Portugal deitar pela janela fora um apoio europeu que nem a Grécia nem a Irlanda tiveram. Os gregos imploraram ajuda, os irlandeses foram empurrados para a ajuda e os portugueses, dizia um dos analistas, atiraram-se para a ajuda. Imaginem como já está a imagem de Portugal.


        O que torna o "não" ao PEC IV e a precipitação para eleições antecipadas ainda mais incompreensíveis é tudo o que aconteceu a seguir, tendo como personalidade central o líder do PSD. As declarações de Pedro Passos Coelho durante os últimos quatro dias revelam uma desorientação e até um desconhecimento sobre a dimensão do problema financeiro português e europeu que são assustadoras. Não queremos acreditar que Passos Coelho desconhecia que o PEC IV era uma peça integrada na nova estratégia europeia de combate à crise do euro. Nem é possível acreditar que Passos Coelho não tinha uma estratégia já definida para o dia seguinte ao chumbo do PEC IV que não fosse contradizer o que tinha dito antes ou permitir que pessoas da sua equipa fizessem declarações sobre as taxas de juro e o risco da República que se aproximam de manifestações de fé.'

      3 comentários :

      Ernestina Sentieiro disse...

      Para conhecer a sondagem TVI, deu-me para seguir o Jornal Nacional de domingo. A custo. Muita gente olha para Marcelo como se fosse um videirinho desacreditado. Não - o caso é mais sério! A "missa" é uma enorme violência, tão desbragada é a manipulação. Disparou contra José Sócrates (assim manda a idiota campanha laranja), fingindo que interpretava dados que, porém, não existiam. Comentou cenários assentes em resultados... não mostrados. Sem pingo de vergonha. E tão prolixo foi que se "esqueceu" de avaliar a prestação de Passos Coelho. A "lata" é enorme, mas já nem chegou para forjar qualquer coisinha boa sobre o PPC.
      O cena vergonhosa a que se refere Helena Garrido é mais um capítulo da saga em que vários mastins procuram, a qualquer preço, abocanhar os votos dos professores. Tenho muitos na família e a honra de ser amiga de muitos deles. Quem pensa que eles são todos parvos engana-se.

      Filipe A. disse...

      Realmente, o primeiro ministro foi apanhado completamente desprevenido por este "não". Não era nada de prever que, depois de apresentar à pressa medidas negociadas à socapa com as instituições europeias, o PSD as pudesse inviabilizar.
      E ainda bem que assim é, porque se suspeitássemos que o nosso primeiro ministro o tivesse intuído, teríamos de concluir que avançou despreocupadamente para a crise política...

      PS - Percebo perfeitamente que queira censurar este comentário, mas faça um esforço por ser tolerante.

      Anónimo disse...

      E se o PSD tivesse um pingo de seriedade em defesa do estado e não do seu pote tinha pontapeado a casca de banana para o lado e seguido o caminho que lhe estava destinado : aprovar o PEC e apresentar uma moção de censura dois meses depois.Mas como sentido de estado não abunda naquela gente e inteligencia muito menos é o que se viu. Não foi por falta de oportunidades porque para falar a verdade o PS quase se pos de joelhos para negociar com estes idiotas.