domingo, maio 01, 2011

E se alguém tivesse processado Eduardo Catroga (e Braga de Macedo) em 1995?



Em 1993, o país entrou em recessão, a primeira depois do início dos anos 80 (com a AD). Era então Ministro das Finanças Jorge Braga de Macedo, que foi substituído no cargo, no final desse ano, por Eduardo Catroga.

Nos quase dois anos em que esteve à frente do Ministério das Finanças, Catroga deixou o país com um défice um pouco acima dos 5 % em 1994 e um pouco abaixo em 1995 (o PSD foi governo 10 dos 12 meses desse ano).

Entre 1992 - quando era ainda Braga de Macedo o Ministro das Finanças, portanto - e 1995, a dívida pública aumentou quase 10 pontos percentuais, de cerca de 52% para quase 62% do PIB (vide gráfico supra)*. Este era o valor mais elevado desde a década de 1920, e só viria igualado uma década mais tarde, em 2005 (a dívida pública desceu com Guterres, em boa parte devido às privatizações, e subiu de novo com Barroso e Santana Lopes).

Já imaginamos as "desculpas": Catroga herdou uma crise que não era dele; a culpa era dos ministros anteriores; ou, então, melhor ainda, da "Europa" ou da "economia internacional". Afinal de contas, Portugal, uma pequena economia integrada na UE, não podia - não podia, são afinal as leis da economia - deixar de sofrer, nesse mesmo ano, com o abrandamento severo das economias europeias. Enfim, uma explicação cândida e incontroversa: tudo fica mais benigno quando colocado em contexto.

Mas, como se costuma argumentar agora, factos são factos, e contra este não há argumentos, não é? A dívida pública aumentou 10 pontos percentuais entre 1992 e 1995, imagine-se - vamos lá ser demagógicos q.b. -, ao ritmo do que se vira nos anos imediatamente seguintes aos 25 de Abril, os tais da irresponsabilidade revolucionária (estamos a comparar o incomparável, não é? ah pois...).

A maior dívida pública desde a década de 1920! Uma vergonha, um escândalo! Ninguém se lembrou de colocar Catroga ou Braga de Macedo em tribunal.
    Pedro T.
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* Fonte: P. Pereira et al. (2009), Economia e Finanças Públicas, Escolar Editora (também aqui).

3 comentários :

Contumaz disse...

O que eu gostaria de perguntar ao Sr. Catroga, não era certamente sobre a dívida mas sobre as condições em que, como ministro das finanças entregou o Banco Totta ao Sr. Champalimaud.
Gostaria que ele esclarecesse os "contornos" (ou com cornos) dessa operação.
Depois de esclarecido levaria então a sério as preocupações do Sr. catroga com a situação do país.

Anónimo disse...

Então o PEC4 não é o programa do PS??

Farense disse...

...e já agora: quanto é que paga de IMI da sua casa no Vale Coelha. Não é vizinho de Cavaco e dos amigos do BPN? Não é ao lado, a casa de Oliveira e Costa?