- ‘Passos Coelho, na sequência do projecto de revisão constitucional, separa as águas e quase funda, nos seus traços fundamentais, um novo partido. Recusa o discurso centrista, em que quase sempre o PS e o PSD navegavam, e que desaguava invariavelmente no nosso conhecido "as ideias são as mesmas, mas nós somos mais competentes". Abandona qualquer tipo de concessão ao centro-esquerda e não receia propor, pela primeira vez na história do PSD, uma solução liberal para a resolução dos problemas endémicos da sociedade portuguesa.
Menos Estado na economia, na educação, na saúde e nos media. Mais iniciativa privada e mais liberdade de escolha para os cidadãos. Um vasto programa de privatizações, uma reforma (tímida, infelizmente) no sistema político, flexibilização da legislação laboral, diminuição no número de funcionários públicos e afins. Pena foi que na justiça, que é urgente reformar de alto a baixo, as propostas tenham sido tão fracas e até perpetuadoras do actual estado de coisas.
O PSD deixa de ser um partido "apanha todos" para se transformar num movimento com uma matriz ideológica bem definida. Chamar agora ao PSD social-democrata só se justificará por razões históricas.
Nada fica como dantes. Finalmente, depois de muitos anos, temos dois caminhos distintos: um vagamente de esquerda e outro claramente de direita moderna e liberal. Finalmente, vamos poder votar em políticas com conteúdo ideológico em vez de basearmos as nossas escolhas em imaginárias qualidades pessoais dos líderes.
A aposta de Passos Coelho é a todos os títulos louvável, mas arriscada. Louvável porque deixa as alternativas claras e contribui para a bipolarização política que, salvo melhor opinião, tanta falta faz. Arriscada porque está por provar que seja possível ganhar eleições em Portugal com um programa daquele tipo. Mais, a conjuntura e o ambiente geral parecem não ser muito propícios àquele tipo de propostas.
Por outro lado, esta opção estratégica pode ter criado um vazio no centro que o CDS não hesitará em aproveitar. É clara a tentativa dos democratas-cristãos em mostrar um discurso mais moderado que os coloque entre o PS e o PSD.
Aliás, agora é de difícil compreensão o porquê de Passos Coelho ter recusado uma aliança pré-eleitoral com Paulo Portas. Se a estratégia era puxar o partido à direita, melhor seria ter metido o CDS no barco evitando aquela previsível jogada dos democratas-cristãos.’
3 comentários :
Devem andar distraídos estes analistas. O Passos Coelho, apresentou-se sem sofismas e muito claramente como um neoliberal (atrasado embora 20 anos) quando das eleiçoes internas ganhas por Manuela Ferreira Leite.
Nao entendo o espanto! Ele disse-o alto e bom som. E agora, logo que conquistou a liderança do partido encomendou um projecto de revisão constitucional que falava por si.
Ou seja, o PSD, com Passos Coelho perdeu o que restava das suas preocupações sociais democratas.
O PPD matou o PSD e é hoje, o partido mais radical à direita do espectro politico português!
Tudo isso é muito bonito mas, se era para fazer uma viragem ideológica talvez fosse bom terem primeiro alguma noção dos tempos que correm e perceber que o ultraliberalismo está posto em causa e só tem conduzido a um maior fosso entre os que tem muito e os que nada tem. Enquanto o Homem for Homem ( com todas as suas virtudes e também defeitos ) mercado que seja desregulado e onde se altere o equilibro de forças entre os que tem e os que não tem só vai gerar mais pobreza e exclusão para o enriquecimento ainda maior de algums ( poucos).Deixar á iniciativa privada (que no nosso pais é fraca, pouco inteligente e sobretudo de vistas muito curtas) a resolução dos problemas de crescimento e competitividade de portugal é estar a afundar o pais de vez .Esta é um ideologia que já produziu resultados muito nefastos em paises com uma maior maturidade democrática e consciencia civica do que a nossa.Querer aplica-lo a portugal é inconsciencia pura.
Caro Miguel,
Faço lonk.
Obrigado.
Abraço.
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