sexta-feira, julho 08, 2011

A golpada

• Daniel Amaral, A golpada:
    ‘Contrariando tudo o que dissera durante a campanha eleitoral, a primeira medida tomada por Passos Coelho foi aumentar o IRS, através do corte de cerca de 50% no subsídio de Natal.

    Argumento invocado: o anterior Governo, que declarara um excedente de €432 milhões no orçamento do primeiro trimestre, foi agora desmentido pelo INE, que encontrou um défice de €3.177 milhões. Eis um episódio triste, de que o actual PM deveria envergonhar-se.

    O episódio é triste por dois motivos. Em primeiro lugar, não se percebe como é que um défice de €3.177 milhões no primeiro trimestre pode impedir o défice de €10.068 milhões no final do ano, quando as medidas aprovadas visaram exactamente este valor. Em segundo lugar, releva de uma profunda ignorância confundir a contabilidade pública com a contabilidade nacional, onde a semelhança é idêntica à que existe entre um pepino e um girassol.

    Façamos a analogia com o mundo empresarial. Nas empresas, a prestação de contas faz-se igualmente de duas maneiras: de um lado temos o balanço, que compara os proveitos com os custos, e por diferença obtêm-se os resultados; do outro lado temos o caixa, que compara as receitas com as despesas, de cuja diferença resulta o saldo. Dando de barato que os critérios de cálculo estejam correctíssimos, a discrepância de números pode ser abissal.

    Imaginemos a aquisição de um equipamento por 100, pago integralmente no acto da compra e contabilisticamente amortizável em 5 anos. Na óptica do caixa, o valor registado é de 100; na óptica do balanço, o valor registado é de 20, porque os outros 80 transitam para os exercícios seguintes. Num lado há o valor que se gastou; no outro aquele que se imputou ao exercício. E podíamos escolher um só deles? Podíamos, mas não era a mesma coisa.

    A conclusão a extrair de tudo isto é que Passos Coelho vive obcecado com a ‘troika', que a todo o custo quer ultrapassar pela direita. E esta diferença nos orçamentos caiu como sopa no mel: o Governo anterior foi chamado de irresponsável, os ‘troikistas' sorriram de orelha a orelha e o Estado ainda se prepara para encaixar uns milhões.

    Mas o expediente não resultou. E o novato que se supunha diferente revelou-se igual a tantos outros: um político que não olha a meios para atingir os fins.
    Não foi um gesto bonito.’

6 comentários :

Zé da Póvoa disse...

O problema é que a troika nacional constituida por Passos, Cavaco e Portas quer impôr-se à troika internacional.

Teófilo M. disse...

Mas estas coisas simples não são ditas pelos economistas de serviço e mais bajuladores do costume, talvez porque não lhes interessa a verdade mas apenas a sua mentira.

praianorte disse...

NINGUEM VE O ALVARO,fugiu?

praianorte disse...

Como sempre muito solido e certeiro.
Comentarios para quê? Esta tudo aí.

Tomaz disse...

Bem, mas será que ninguém percebe que a descrição de conceitos está completamente errada? Os resultados apuram-se na demonstração de resultados (e não no balanço). Despesas e receitas não se confundem com pagamentos e recebimentos (estes últimos na optica de caixa). Balanço, bem... balança tudo isso e reconcilia tudo isso, para uma fotografia do momento (e não para um demonstração de actividades - quer na óptica de resultados, quer de caixa).

Se essa é a vossa contabiidade privada - e extrapolando para a pública - percebo os resultados obtidos!

Dinis Fonseca disse...

Tomaz:

Estavas a falar tão bem e depois metes os pés pelas mãos. Ainda não fizeste a cadeira de contabilidade, pois não? Junta aí outra óptica: a dos proveitos e dos custos (do exercício).