"Nesta corrida para o abismo"

• Tomás Vasques, No fio da navalha:

‘O rumo que este governo tomou, desde o dia da tomada de posse, de saque fiscal sobre os rendimentos do trabalho sobre a classe média e média alta, em benefício dos rendimentos de capital e do património das grandes fortunas e, em geral, de redução dos custos do trabalho (em salários, em indemnizações por despedimento, por exemplo) em nome de uma hipotética retoma económica, vai produzir efeitos contrários aos pretendidos, conduzindo a nossa débil economia a uma profunda e prolongada recessão, com consequências imprevisíveis. Isto é tão evidente que até a fina-flor dos partidos da coligação governamental começam a apontar o dedo à insensatez governamental. Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes, Lobo Xavier, José Pacheco Pereira, Vasco Graça Moura, Pires de Lima, entre outros, já questionam os caminhos para onde o governo quer arrastar Portugal e os portugueses.

Mas há, ainda, um outro indício relevante nesta corrida para o abismo. O governo quer passar por bom aluno junto da troika e da senhora Merkel, a actual patroa da União Europeia. Mas a senhora Merkel parece não reconhecer esse esforço. Sabemos que na Diplomacia internacional nada é feito por acaso. Todos os actos têm um significado, exigem uma leitura e são um recado. É assim há centenas e centenas de anos. Daí que deve ser lido como um sinal político muito importante o facto da senhora Merkel ter querido receber o anterior primeiro-ministro, José Sócrates, antes de receber o actual primeiro--ministro, Passos Coelho. Não se tratou de um acaso, mas de uma decisão política da chanceler alemã. Um recado. E só não vê quem não sabe ler.’