Mas o aspecto mais relevante do artigo nem é esse. Pedro Adão e Silva põe em relevo que este ataque brutal ao funcionalismo público não se deve apenas, nem sobretudo, aos constrangimentos orçamentais. Faz parte de uma estratégia mais vasta de destruição do Estado — procurando fazer de Portugal o “laboratório de um radicalismo anquilosado”:
- 'A lógica perversa de compressão salarial na função pública vai produzir efeitos nefastos. Além da desmotivação, os incentivos para a saída dos mais qualificados são tantos que a capacidade da administração para defender o interesse público ficará ainda mais fragilizada e a degradação progressiva dos serviços será inevitável. Não por acaso, esta semana já pairou a ameaça de uma debandada geral de médicos que estão em exclusividade no SNS.
Esta reforma do Estado irracional e feita ad hoc esconde objetivos políticos. Por um lado, é-nos dito que a via para a competitividade do país passa pelo empobrecimento generalizado na função pública; por outro, é recuperado, com trinta anos de atraso e particular intensidade, um conjunto de ideias muito populares nos meios académicos sobre as ‘falhas de Estado’ e a forma como os funcionários de topo, em última análise, se apropriam dos recursos públicos, promovendo uma lógica despesista extravagante. Só isso pode explicar a ambição de desmantelar os serviços públicos que está na base da ação deste Governo. Que Portugal tenha sido escolhido para laboratório de um radicalismo académico anquilosado é, se nada mais, assustador.'
1 comentário :
Pensava eu que o estado social era uma importante conquista das populações industrializadas e democráticas, um avanço sem precedentes para uma sociedade mais justa e util para todos. Estava obviamente errado : a selvejaria , a estratificação social rigida e a escravização do povo pelas elites é que é o progresso!Como é que isto não nos ocorreu antes?!!!
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