Jefferson Airplane
Never Argue With a German If You're Tired (...)
- ‘Se há um país em que houve informação e em que houve conhecimento, esse país é a Alemanha. E, contudo, esse país deixou-se enganar pelos argumentos pueris de Hitler. A verdade é que não encontro a razão dessa contradição. O que também acontece com os alemães é o respeito da autoridade, uma espécie de respeito chinês das hierarquias [esquecendo-se] que as hierarquias se devem às circunstâncias, e que as circunstâncias se devem ao azar. Os alemães, que tiveram filósofos cépticos, não costumam dar gente céptica. Os alemães são grandes soldados enquanto crêem na possibilidade da vitória, mas parecem incapazes de lutar por uma causa perdida. A esquadra espanhola, depois da derrota de Cuba, saiu precisamente para se afundar. Pelo contrário, a esquadra alemã entregou-se em 1918 à esquadra inglesa, quando sabia que o combate era inútil.’
- Jorge Luis Borges
3 comentários :
Excelente este Jorge Luis Borges.
O Borges tem alguma razão no que toca à tendência dos cabeçudos alemães para confiarem cegamente na autoridade, mas engana-se noutros pontos. Em primeiro lugar, os alemães são tão capazes de lutar até ao último homem, mulher e criança por causas perdidas como quaisquer outros patetas entusiasmados com as aldrabices com que os governos costumam entusiasmar os patetas; fazem-no até com uma eficácia consideravelmente maior que a de muitos, como revela o enorme número de baixas soviéticas da batalha de Berlim (a mais sangrenta de toda a Segunda Guerra Mundial). Em segundo lugar, é verdade que a esquadra alemã se viu forçada à rendição em 1918, mas nem essa rendição conta a história toda, uma vez que a própria esquadra se auto-sabotou no cativeiro de Scapa Flow, não tendo portanto chegado a ser «entregue» nem manejada por tripulações inimigas; nem se deve deixar de ter em conta o escrúpulo alemão em cumprir o que o armísticio de 11 de Novembro ditava, coisa a que infelizmente os supostamente mui virtuosos aliados não corresponderam, continuando um cobarde bloqueio em tempo de paz a uma Alemanha arruinada e desprovida de marinha de guerra que provocou um enorme número de vítimas civis... e algumas pequenas sequelas nas décadas de 30 e 40 a que já aludimos alhures e, mais uma vez infelizmente, não parecem ter servido de lição a ninguém...
Além do mais, esse argumento estafado do «país em que houve informação e em que houve conhecimento...» faz lembrar aquela pergunta aparvalhada para petrificar os chamados revisionistas do Holocausto:
«Como se explica que a cultura que produziu Goethe, Beethoven e -- facto nada insignificante no presente contexto -- inúmeros cientistas de génio, se tenha de repente posto a produzir abat-jours de pele humana, cabeças reduzidas, sabão e macadam humanos, e câmaras de gás para assassinar em massa a pesticida e outros meios artesanais que, aliás, incluem o vapor da água, a electrocução simultânea e o escape de motores Diesel pouquíssimo tóxicos por natureza (ainda por cima de submarinos e/ou tanques russos, ideia maravilhosa no que toca à reparação de avarias e substituição de peças)?!»
Dispenso-me de fornecer a resposta. Pensem! Puxem pela mioleira. Pensem criticamente que só vos faz bem...
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