- ‘Sobra, é claro, a disciplina orçamental - como sempre, a aposta única da doutrina dominante: regra de ouro (embora não necessariamente consagrada na Constituição); obrigações estritas em caso de défice excessivo ou de ultrapassagem dos limites da dívida pública; intervenção do Tribunal de Justiça da União Europeia (por iniciativa não só da Comissão mas também dos outros Estados) e sanções financeiras em caso de incumprimento. Tudo para começar a vigorar lá para Janeiro de 2013. Em suma, pretende-se reconquistar a confiança dos mercados através de um sistema que é, ele próprio, uma evidente confissão de desconfiança, em que todos na zona euro assumem desconfiar de todos os outros, incluindo da própria Comissão Europeia. Não é provável que dê certo...
É verdade, o Conselho Europeu sabe que há hoje um coro alargado de instituições, analistas e até agências de rating que dizem que a recuperação da confiança não pode assentar na destruição das economias às mãos da actual espiral de austeridade. Qual foi a resposta dos líderes europeus? Trataram de encenar - é esse o termo - uma agenda para o crescimento e o emprego, entre lamentos quanto ao drama do desemprego juvenil. Toda essa encenação esconde uma lamentável escolha política: a decisão de não investir nem mais um euro para enfrentar o problema do crescimento e do emprego! De facto, a única coisa que se fez foi decidir "reorientar" as verbas dos fundos estruturais já previstas e ainda disponíveis. Outro caso de publicidade enganosa.
Indiferente a isto, o Governo insiste no seu alinhamento com a senhora Merkel e, mais uma vez, mostrou-se satisfeito com a resposta europeia à crise. É a sua opção. Mas essa opção envolve uma responsabilidade e trás consigo uma consequência política: é que se falhar, o Governo não poderá invocar como "causa externa" o fracasso da resposta europeia à crise das dívidas soberanas. Porque esse fracasso será também o seu.’
2 comentários :
A meta de Janeiro de 2013 serve na perfeição a agenda politica de Merkel. Se não ganhar as eleições pois tudo leva a crer que não pelos resultados que tem tido (tem perdido praticamente todas as eleições regionais)deixa pelo menos a marca de ter deixado uma Europa enfraquecida e dividida a ponto de termos de continuar a falar dela( os próprios alemães também) durante muitos anos e pelas piores razões. Por essa altura, se Passos Coelho tiver sobrevivido no governo, ficará a falar sózinho, pois não se prevê também que Sarkozy ganhe as presidenciais este ano.
Só a perda de eleições desta hidra bicefala chamada Mercozy pode salvar a europa e Portugal.
Até ao fim do ano vamos continuar a sofrer com mais austeridade, desemprego e circo governamental.
O único que se vai safar do estouro no fim do ano será o Relvas : absorveu bem o exemplo de Dias Loureiro e já está é a tratar da vidinha que virá a ter em Angola.
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