- ‘O caso Pedro Rosa Mendes tem sido utilizado pelos adversários de um serviço público de rádio e televisão, alegando-se que este será inevitavelmente um instrumento dos governos. Há várias falácias nesta argumentação: as empresas privadas de rádio e televisão não são necessariamente mais independentes do que as públicas, porque (1) muitas daquelas empresas subordinam a sua orientação aos interesses estratégicos dos seus proprietários, frequentemente incompatíveis com uma postura plural ou isenta; (2) a lógica comercial dos operadores privados acarreta a uniformização da programação e não garante o respeito pelo imperativo da representatividade das minorias políticas e sociais; (3) os limites económicos e tecnológicos à criação de novos operadores hertzianos condicionam ainda o seu universo e a sua pluralidade, além de que a simples diversidade desses operadores não é geralmente suficiente para assegurar a representação do pluralismo político, social e cultural; e ainda porque (4) a tradição do modelo europeu de serviço público fundamenta-se também numa notória independência face ao poder político.
Reconheçamos todavia que grande parte da história da RTP é pouco condizente com a garantia do pluralismo e da independência face ao Governo, a Administração e os demais poderes públicos, que constituem sintomaticamente as únicas preocupações do legislador constitucional relativamente ao operador público. Não é, no entanto, legítimo considerar que a propriedade pública da RTP conduz inevitavelmente à subordinação aos ditames do poder político, nomeadamente no que concerne à determinação dos seus conteúdos informativos.
Em primeiro lugar, porque essa não é a experiência recente portuguesa. É verdade que a RTP foi demasiado tempo, mesmo depois de 1974, um instrumento do poder político. De facto, até aos governos de Sócrates (sim, de José Sócrates...), sempre que mudou a maioria política no poder, esta, poucos meses depois, demitiria a administração da RTP e, logo a seguir, a direcção de informação, criando muitas vezes uma cadeia hierárquica de controlo político que começava no ministro da tutela e terminava nos responsáveis pelos conteúdos informativos. Mas já antes, após o início da era da concorrência, nos anos 90, a informação da RTP ganhara uma clara autonomia face ao poder político, fruto da exposição acrescida a que o operador público estava submetido devido à inevitável comparação com os operadores privados, do claro reforço da consciência profissional dos jornalistas e da própria opção dos governos, pelo menos por considerarem que qualquer interferência nos conteúdos do operador público, quando denunciada, tinha bem mais inconvenientes do que benefícios. (…)
A independência da RTP face ao poder político não está, todavia, definitivamente garantida. A todos, governantes, gestores, directores, jornalistas e reguladores, nas suas diferentes missões, cabe o papel de assegurar esse imperativo constitucional. A tentação de controlar a informação ou de a transformar num mero elemento de valorização das políticas públicas, dos aspectos positivos do país ou das suas estratégias de afirmação internacional (mesmo que a bem da Nação...) constitui sempre um erro que, assim o diz a tradição, acaba por vitimar os seus autores...’
2 comentários :
O Pedro Rosa Mendes é da opinião daquele europeu que nos proibe de falar com os angolanos.
O Pedro Rosa Mendes disse foi uma boa dúzia de verdades que nenhum dos visados gostou de ouvir, essa é que é essa.
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