domingo, fevereiro 12, 2012

Passos: acabar com as pontes para “transformar velhos comportamentos preguiçosos”

• Pedro Adão e Silva, A culpa é da preguiça [ontem no Expresso]:
    ‘Pieguices à parte, o primeiro-ministro achou por bem esta semana elaborar sobre os males do país e não lhe ocorreu melhor do que remeter as causas do nosso atraso para um problema genérico de indolência, que se manifesta numa propensão para a preguiça.

    Revelando-se um genuíno antilafargueano, Passos Coelho ilustrou o “caso português” com um exemplo: “recordam-se o caricato que foi na altura, a troika estar em Lisboa a trabalhar, para saber como deviam fechar o acordo de ajuda a Portugal, estando o país fechado para férias devido a umas pontes”. As pontes, convém recordar, eram apenas dois feriados, o 25 de Abril e a Páscoa (uma curiosa paridade entre, para utilizar a surreal formulação do Governo, um feriado civil e um religioso). Certamente entusiasmado pelo seu raciocínio, não escapou a Passos Coelho um corolário lógico – “a troika trabalhava, o País aproveitava as pontes” –, para logo revelar a sua profunda ambição política, “transformar velhos comportamentos preguiçosos” (sic).

    (…)

    Mas, acima de tudo, o argumento da preguiça revela uma interpretação desadequada da natureza da crise. No fundo, estamos perante uma interiorização depurada da crise como “culpa moral”, que faz certamente rejubilar a srª Merkel.

    Para Passos Coelho, pelos vistos, os problemas do euro são uma espécie de fábula: certos povos têm uma propensão incontrolável para o ócio, pelo que têm de mudar de atitude, expiando o mal e abandonando “velhas tradições” (começando pelo paradigma de hedonismo que dá pelo nome de Carnaval). É verdade que há muita literatura que procura explicar a diversidade do capitalismo e as suas diferentes trajetórias, mas desconheço tentativas de explicar atrasos económicos com base em feriados e pontes. Devo estar a ficar preguiçoso.’

3 comentários :

Anónimo disse...

Alguém será preguiçoso sim, mas não é o povo. Preguiçosa e muito, é a forma deste PM raciocinar acerca dos males que afectam este país. É bem mais fácil ( e muito preguiçoso) culpar o povo quando não se têm soluções.Tipico caso do "diz o roto ao nú, porque não te vestes tu".

André disse...

O Fedelho fala do Portugal que conhece: Um Portugal de gente preguiçosa, encostada no estado mas a grunhir contra ele, inimiga da inovação e dependente de amigos influentes e de beneficios absurdos. Cada um fala do que sabe!
Realmente o Fedelho tem toda a razão, nunca um PM fez um retrato tão acutilante da elite portuguesa!

Mata-ratos disse...

Nem mais nem menos, aliás, do que o retrato da piolheira tirado por esse lacrau pseudo-erudicto que dá pelo nome de Vasco Graça Moura, quando perorou inflamadamente contra o Povo português por ter derrotado a sua favorita Ferreira Leite, essa encrenca que dizia não haver nenhuma crise lá fora e o nosso mal ser apenas a FALTA DE CREDIBILIDADE DO GOVERNO E DO PRIMEIRO-MINISTRO!


A propósito, será que ainda "pensa" assim?...