• Manuel Loff, Uma história em fascículos... (I) [hoje no Público]:
- ‘Centremo-nos hoje na narrativa que RR faz do papel de Salazar na história. Para ele, o Estado Novo era "um regime assente (...) no monopólio da atividade legal por uma organização cívica de apoio ao Governo", e esta é a forma como ele classificará sempre o partido único da ditadura, com "a chefia pessoal do Estado" entregue a "um professor catedrático introvertido", um homem "de outra espécie", com "nada de uma personagem ditatorial" como a dos líderes da Europa fascista do tempo (pp. 627 e 638-39). Neste campo, a primeira das suas preocupações é a mais comum entre os historiadores da área de RR: desenhar um Salazar sensato e algo neurasténico, que não gostaria de uniformes (apesar da origem militar do regime e do seu caráter inevitavelmente policial e repressivo) e que nada teria a ver com Hitler, Mussolini ou Franco. O "pobre homem de Santa Comba", como o ditador se definiu a si próprio, teria "para Portugal objetivos simples" pois propunha-se "fazer viver Portugal habitualmente" e "queria instituir uma "ditadura da inteligência" para "fazer baixar a febre política" no país e "reencontrar o equilíbrio" (p. 639).
A segunda originalidade de RR decorre daqui e descola totalmente da realidade: oferecer-nos um Salazar liberal, por oposição aos republicanos de 1910 (um dos ódios de estimação de RR), que, praticamente totalitários, teriam estado empenhados em fazerem da sua "revolução" uma "transformação cultural violenta" feita por um "Estado sectário" (pp. 585-86)! Salazar, pelo contrário, queria "assentar o Estado, não na "abstração" de indivíduos desligados da sociedade e arrastados por ideias de transformação radical, mas no que chamou o "sentimento profundo da realidade objetiva da nação portuguesa"". Para RR, "a "missão" do líder" era a de "reconciliar os portugueses com essa "realidade", e ao mesmo tempo ajudá-los a adotar modos de vida sustentáveis". Em resumo, "o seu modelo implícito era o que no século XIX se atribuíra aos "ingleses", prático, "pouco sentimental": "Eu faço uma política e uma administração bastante à inglesa"" (pp. 639-40) - isto é, um Salazar primeiro-ministro da rainha Vitória...
Se acompanharmos as suas crónicas no Expresso, a lição da História para a análise da crise atual parece evidente. Hoje, "a austeridade é, no fundo, a vida depois de desfeitas as últimas ilusões do passado" - exatamente como Salazar, que "tinha ambições, mas não ilusões" (RR, in Sábado, 14.1.2010), se havia empenhado em "reconciliar os portugueses com a realidade" e em "ajudá-los a adotar modos de vida sustentáveis"! E o que é que, na opinião, de RR foi insustentável no nosso passado recente? "Uma classe média de funcionários (...), uma economia de trabalhadores e empresários protegidos, e a estatização de grande parte dos serviços (educação, saúde) e da segurança social" (Expresso, 28.7.2012).’
6 comentários :
Essa coisa de dizer que o Salazar nada tinha a ver com fardas é ignorância. Os militares trataram logo de militarizar o seu homem civil. Como? Fácil um civil fica militar honorifico se for agraciado com a ordem militar da Torre Espada. E assim Salazar em 1932 foi agraciado com a Grã- Cruz da ordem militar da Torre Espada. A Gãr-Cruz transforma um "Civil" em "General" em termos de Honras e continências militares. A ignorância é muito atrevida. Salazar dependeu sempre dos militares. Foram os militares que suste tentaram a ditadura. Sem os militares Salazar não tinha existido . A prova é que para um civil ter sido aceite pelos militares teve de ser "militarizado". É o equivalente ao honoris causa das Universidades
Eu se fosse rico era pelo Rui Ramos. Havia festas e tal, e todos fingíamos que éramos muito fofinhos e que a cabra da vizinha era uma pega da pior espécie.
As histórias que a minha mãe conta eram bem diferentes. A minha mãe tem 70 anos (ou quase) e disse-me há dias o seguinte: "com 6 anos fui trabalhar para o campo. Aos 8 recebi uma proposta de um colega de trabalho bastante mais velho (11 anos): não te preocupes que os meus irmãos estão no Brasil e, quando me vierem buscar, eu levo-te."
Não gosto mesmo nada de ver estes idiotas transformarem a História em propaganda.
Espantoso como ao fim de tantos anos pós ditadura ainda surgem estes mermelos a tentar branquear o que não têm justificação e muito menos perdão.
Salazar não passou de um provinciano moralista, de educação religiosa e carácter cheio de pecadilhos reprimidos.
Gostava de aplicar a todo um povo os castigos que nunca teve coragem de aplicar a si próprio. Um pobre de espirito convencido de que estava numa missão. Um inflexivel, cego, preconceituoso e fruto de uma educação rigida, disfuncional e de vistas curtas.
De uma coisa não se o pode acusar no entanto, que era a de ser diferente da maioria ovelhada que durante 50 anos governou.
Assim sem mais nem menos , um ditador que reflectia o dia a dia de uma população ignorante, inculta e mesquinha.
Só quando as condições de vida melhoraram ligeiramente e se começou a ter no exercito gente com mais do que a 4ªclasse é que o estado de coisas começou a mudar para o ditador.
Dizer que Salazar era apenas um professor catedrático introvertido e não tinha nada a ver com uma personagem ditatorial, se viesse de alguém que não sabe história e não tivesse vivido em Portugal até poderia não parecer estranho, porém, Rui Ramos é a antítese disto, tirando talvez um pequeno pormenor de não ter vivido como adulto durante o seu regime.
Esquecer a quem se deve a criação da PVDE e a sua orientação primeira, quem esteve na gánese dos tribunais plenários, quem negou a democracia como regime político, quem ativamente criou uma oligarquia assente no trabalho mal remunerado e sem direitos, quem negou a cultura aos portugueses, quem tentou criar uma juventude partidária ligada ao regime, etc.
Certamente Rui Ramos ou é muito distraído ou não tem a noção do ridículo, pois qualquer com muito menos estudos e graus académicos não se atreveria a tanto.
Até um "historiador" como RR, não me surpreende. ««Quando fôr grande, quero ser como RUI RAMOS»»
Ainda bem que a nossa liberdade e democracia....está a permitir esta gente "saír do Armário"...
Talvez não saibam que o «historiador» Rui Ramos, há alguns anos, quando se exibia um filme sobre o Che Guevara, que havia sido precedido de um outro sobre Hitler, escreveu no jornal «Metro» um artigo em que dizia que estavam em moda os filmes sobre os monstros da história. Não recordo os termos exactos, mas sei que ele aplicava epíteto igual ao Hitler e ao Che. Que o «Expresso» nos faça tal brinde, só desmascara a natureza da democracia que apregoa. Bem hajam, pois, os artigos do Manuel Loff.
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