quinta-feira, agosto 09, 2012

A política do bom aluno: “com políticos de falinhas mansas não se vai a lado nenhum”

• Francisco Assis, A ousadia de Monti e os riscos do projecto europeu [hoje no Público]:
    ‘Mario Monti volta a perturbar as águas europeias. Numa entrevista à Der Spiegel alerta para o risco de desintegração do projecto europeu e dirige severas críticas a vários governantes. Uma vez mais aborda a questão de um hipotético confronto entre o Norte e o Sul, remetendo para o carácter essencialmente político da crise que assola a União Europeia.

    Monti foi, contudo, mais longe do que é habitual, vituperando os governos que desistem de lutar pela afirmação pública dos seus pontos de vista e interpelando os parlamentares que demasiadas vezes sucumbem à tentação do discurso populista. As suas palavras suscitaram imediatas e pouco civilizadas reacções. Um tal Alexander Dobrint, líder democrata-cristão na Baviera, não hesitou em considerar tais afirmações como antidemocráticas e "determinadas pela cobiça pelo dinheiro dos contribuintes com meios". A boçalidade política em versão germânico-meridional em todo o seu esplendor. É com gente como esta, que suscita o entusiasmo de alguns pacóvios no nosso país, que Angela Merkel tem que lidar todos os dias.

    Monti chama, uma vez mais, a atenção para uma questão de grande importância no processo europeu. No rescaldo do debate que acompanhou a realização do referendo sobre o Tratado Constitucional em França foi publicado um interessante ensaio da autoria de Marc Joly. Entre outras considerações pertinentes, Joly chama a atenção para aquela que considera como uma oposição essencial no projecto de construção europeia entre uma soberania popular/nacional e uma outra, elitista/europeia. Na sua óptica aqui radicará um dos grandes problemas da Europa. De um lado, temos um sistema de decisão política plenamente democrático onde confluem os elementos das soberanias nacional, popular e estatal, do outro temos um projecto europeu assente num consenso intra-elitista, distanciado da dimensão popular e, por isso mesmo, enfraquecido na sua legitimação democrática. Para Joly o próprio Jean Monnet, com o seu método funcionalista, tinha como referência um horizonte a-democrático devidamente protegido dos ruídos ideológicos e das pulsões nacionalistas que acompanham a vida política de cada Estado europeu. A elite civilizadora europeia, ainda que também integrada por representantes políticos nacionais, deveria mover-se numa espécie de limbo asséptico, lugar a partir do qual se empenharia em explicar pedagogicamente aos povos a natureza das decisões tomadas de acordo com uma certa verdade revelada. Este modelo terá funcionado com relativa eficácia até ao momento em que os povos irromperam em cena como construtores activos do principal projecto político levado a cabo por países eminentemente democráticos.

    Mario Monti coloca o problema numa outra perspectiva igualmente importante. Ele refere-se à incapacidade patenteada por alguns dos principais dirigentes políticos europeus de assumirem um discurso claramente europeu no quadro das respectivas instituições nacionais. A democracia representativa concede aos representantes do povo uma margem de autonomia que constitui condição imprescindível para a produção de um discurso político não demagógico. Se os políticos se limitarem a reproduzir acriticamente a vox populi, se permanecerem prisioneiros de estereótipos e preconceitos próprios do senso comum, estarão a declinar um aspecto fundamental das suas responsabilidades. É isso que infelizmente tem acontecido demasiadas vezes quando se fala de Europa. Monti interpela governantes e parlamentares com uma ousadia rara. Enganam-se os que pensam que os povos não estão dispostos a aceitar o discurso da complexidade. As pessoas já perceberam que com políticos de falinhas mansas não se vai a lado nenhum.’

1 comentário :

Anónimo disse...

"As pessoas já perceberam que com políticos de falinhas mansas não se vai a lado nenhum.’ - Parto do principio que o autor não faz parte dos "falinhas mansas", mas sim do grupo dos mais ousados, com voz activa, mais exigentes e com ideias claras sobre o futuro! Pergunta: porque é que durante 8 anos os socialistas enterraram o país e sempre a pedir dinheiro aos malandros que agora, imagine-se a lata, nos querem cobrar o que emprestaram!!!! Uma coisa é certa: como vocês fizeram está provado que não dá e o futuro é de bancarrota! Sejamos democratas e deixemos que os "falinhas mansas" tentem a sua maneira de ver o nosso futuro. Por enquanto está provado que viver sempre a pedir sem estrategia e visão não dá mesmo!! Vamos ver se estes conseguem alguma coisa, fazendo o trabalho que tem ser feito e sem fazer ondas, para que quando a Europa chegar a um concenso, estejamos preparados para enfrentar o futuro sem mentira e com rigor!