quarta-feira, setembro 19, 2012

O regresso do mentor (e outras histórias)

1. Em alturas de grande aperto, o maître à penser que foi até à data o primeiro e único empregador do alegado primeiro-ministro (fora o tão detestado Estado) volta sempre à tona. Ontem, o engenheiro que se notabilizou por ter descoberto e reprimido com êxito, quando dirigia o Ministério do Interior, a insurreição dos pregos, foi prestar declarações durante mais de uma hora à SIC-N.

Ficámos a saber que o terrível Ângelo não deu o seu avisado conselho ao pupilo Coelho. E se o tivesse dado, segundo o engenheiro esclareceu, tê-lo-ia dissuadido da medida da TSU. Não porque essa medida seja injusta ou economicamente errada. Nada disso. A medida é correcta, mas foi deturpada e os marxistas, com esse pretexto, conseguiram pôr centenas de milhar de incautos na rua.

Além disso, o mentor de Coelho foi criticando também Paulo Portas, por ser mais esperto que o seu pupilo e lhe ter tirado o tapete. Esta crítica, no entanto, é suspeita. O terrível Ângelo tem interesse no assunto, porque quer demonstrar que as suas explicações dão resultado e Portas não ajuda a demonstrar essa sua ideia.

2. Entretanto, da parte dos aliados, o Pedro não consegue recolher nada de bom. O ex-motard Mota Soares, depois de ter elogiado o saque dos trabalhadores (e infelizmente para ele em público), pôs a correr que se opôs a à medida. Os deputados Nunos (o Magalhães da segurança e o Melo da Europa) também se pronunciaram contra a medida, depois de a terem apoiado num primeiro momento.

É claro que ninguém nota, porque PP quer dizer Partido de Portas — como todos nós sabemos. Digam o que disserem os popularúsculos que o rodeiam, o que interessa é saber o que pensa o chefe depois de uma conveniente viagem pela estranja (integrado numa missão comercial da AICEP) e de uma semana de sauna e reflexão na pátria amada.

3. Mas o que mais deve chocar Passos Coelho é a reacção dos seus fiéis ministros, companheiros de partido. Miguel Macedo, Paulo Teixeira da Cruz e Aguiar Branco apressaram-se a comunicar ao Correio da Manha que se tinham oposto à medida. Interrogados sobre isso, vestem um ar piedoso e dizem que não discutem assuntos desses fora do Conselho de Ministros. Só falta dizerem que foi o Pedro a promover a fuga de informação. Mas lá chegaremos…

4. O próximo episódio vai ser, sem dúvida, interessante. Quanto mais não seja, para saber o que têm a dizer algumas personagens que têm estado caladas, por gratidão para com Passos Coelho, e para não se comprometerem, embora não se coíbam de falar em off. Estamos a falar de gente como Assunção Esteves, Francisco Balsemão ou Leonor Beleza.

Mas o que mais espanta no meio de tudo isto é o isolamento do primeiro-ministro. Os seus tradicionais inimigos — Manuela Ferreira Leite, Capucho, Alexandre Relvas, Pacheco Pereira… — aproveitam para ajustar contas numa tão soberana oportunidade.

Os que ainda esperam alguma coisa, como Marcelo, que ainda não desistiu de ser candidato à presidência da República, têm a gentileza de chamar burro ao Pedro, ressalvando que é bem-intencionado. Já os amigos do peito fugiram para o estrangeiro, como é notoriamente o caso de Relvas, que apareceu no Brasil de camisa aberta (à Paulo Portas) a dizer que já toda a gente estava à espera deste desfecho. Os amigos de ocasião, como Luís Filipe Menezes, berram por uma remodelação urgente.

Talvez não seja má ideia seguirem a táctica de Cavaco, arranjando uns ventríloquos que falem por eles. Convém não ser a Dr.ª Manuela, porque essa já está ocupada.

5. Para completar o ramalhete, falta observar a reacção dos empresários beneficiados pela diminuição da TSU. Os presidentes da CIP; CCP e da CAP criticaram duramente a medida, dizendo, pasme-se, que ela aumentará o desemprego por reduzir o poder de compra dos trabalhadores.

Carlos Moedas, num almoço com os empresários, chorou lágrimas de crocodilo por causa da ingratidão deles. Afinal, andaram-se a queixar da falta de liquidez e não agradeceram o presente do Governo! Os empresários ouviram e, apesar de estar previsto um debate, não disseram uma palavra. Saíram sorrateiramente, como quem sabe que o Moedinhas já faz parte de um filme que saiu de cena.

5 comentários :

Teófilo M. disse...

Zangam-se as comadres...

Anónimo disse...

Análise perfeita. Não há comentador na praça pública que fizesse melhor.

Cpts
J.

james disse...

O Ângelo Correia disse que a esquerda e ainda hoje voltou a dizer, capturou, ideologicamente a TSU.


O Moedinhas, nasalado, como a sua assessora, Patrícia dos Azeites Galo, esteve uma dó....

Sobre o resto é tudo verdade.

Anónimo disse...

Foi mesmo de mentor com direito a dar uns caldaços no pupilo, pois abriu o comentário a dizer que aquilo era tudo uma "garotice"...Depois claro veio a tactica para o rapazote...

Anónimo disse...



É ele um dos principais culpados da "garotada", o VELHaco!


Para ele não vai haver apenas "calduços", não, mas umas valentes e merecidas ARROCHADAS, na altura própria, claro, que não perde pela demora...