quinta-feira, outubro 25, 2012

Gaspar: ir além da troika, do FMI e de quem se lhe atravessar ao caminho


Quem mandou Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, dar a conhecer que as políticas a que 28 países foram obrigados a seguir nas últimas três décadas continham erros grosseiros que produziram um efeito recessivo bem maior do que o que se previa?

Recorde-se que o FMI andou a vender a tese de que, por cada ponto de redução do peso do défice público, haveria um efeito recessivo de 0,5. Estudos recentes permitiram a Blanchard sustentar que a queda do PIB é muito superior: em lugar de 0,5, o FMI estima, na hora actual, que esse multiplicador poderá situar-se entre 0,9 e 1,7. É o que consta da já famosa “caixa” (a partir da pág. 41) do World Outlook Report, de Outubro.

Ora, na última conferência de imprensa de Vítor Gaspar, um jornalista perguntou ao ministro das Finanças qual é o multiplicador implícito na proposta do Orçamento do Estado para 2013. Gaspar enrolou e não divulgou o dado. Foi preciso João Galamba ter pedido à Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) da Assembleia da República que calculasse o multiplicador orçamental para que, finalmente, Vítor Gaspar abrisse o jogo: “prevê um multiplicador orçamental de cerca de 0,8 pontos”, ou seja, “por cada euro de austeridade, o Governo espera uma queda do PIB de 0,8 euros”.

Este valor é menor que o limite inferior do intervalo calculado pelo FMI (os tais 0,9 a 1,7 pontos), quando se esperaria que tivesse de estar acima da média, tendo em conta as especificidades da situação portuguesa: o endividamento, o enorme peso da quebra da procura interna, a asfixia do financiamento à economia. Como no caso português o sector privado não pode atenuar os efeitos da austeridade, não é complicado prever o que aí vem para o ano e como são irrealistas as projecções do Governo.

1 comentário :

Um passageiro da 2ª Classe disse...



Em quanto tempo é que o FMI tirou o "canudo"?

Ou quem é que já alguma vez viu se o FMI tem competência para afirmar seja o que for?

Isto é que deveria ser questionado: estamos a ser conduzidos por um bando de ignorantes contumazes e tão irresponsáveis como o comandante do Costa Concórdia!