A propósito deste post, uma leitora, Carolina, escreve o seguinte:
- ‘Deixe-me dizer-lhe que este seu post é de muito mau tom. Vou frisar: é mesmo de muito mau tom.
Comentar a gravidez de uma ministra, como se isso fosse notícia de interesse público (que eu saiba, a gravidez dela é do domínio da sua vida privada - e nem quando estiver de barriga grande merece ser mais comentada), é matéria para revistas cor-de-rosa, as quais deveriam ser abolidas. Sugerir que, por duas pessoas no mesmo local de trabalho estarem grávidas, algo de estranho e perverso se passa, é de um MACHISMO indisfarçável e deplorável.
Sabe o que deveria ser notícia? Que nenhum dos ministros goze as licenças de parentalidade que legislou. Que o número de faltas para assistência a netos, dadas por homens, em Portugal, seja igual a zero. Zero. Nem é preciso referir que o número para assistência a filhos é 3 ou 4 vezes superior nas mulheres que nos homens. Que as mulheres portuguesas tenham duplas jornadas de trabalho, passando mais 13h por semana que os homens a cuidar da casa, filhos e idosos - sem receber um tostão. Que ganhem até menos 15% ou 17% em funções idênticas. Que sejam uma minoria nos cargos de chefia.
Escândalo, Sr. Miguel, é que sejamos assediadas na rua, nos transportes e no trabalho. Que nos discriminem em entrevistas de emprego, lançando logo a pergunta: "Pondera ter filhos nos próximos anos?". Se a licença de parentalidade partilhada fosse obrigatória, esta pergunta deixaria de fazer sentido. E ninguém ficaria preocupado com "quem é que vai substituir a ministra, essa desavergonhada que se atreveu a ficar grávida??" E as mulheres não seriam, primeiro, discriminadas por terem útero, segundo, difamadas por estarem grávidas, que é como quem diz, terem vida sexual além do trabalho. As atrevidas!
A sua vida pessoal não me interessa, Sr. Miguel, mas desejo-lhe que tenha pelo menos 3 filhas na vida. E que ao olhar para elas, se lembre, todos os dias, que só por serem mulheres neste mundo, uma delas será violada ou violentamente agredida. E só por serem portuguesas, a probabilidade de que uma delas seja vítima de violência no namoro até aos 25 anos é muito grande. E não, não tem nada que ver com a educação ou nível de ensino que você lhes der. Tal como o seu empenho nelas também não garante que elas venham a ter um emprego digno, ou evitem que o seu contrato não seja renovado quando estiverem grávidas.
Sabe porquê? Porque tudo isto tem a ver com uma sociedade machista e patriarcal, de base católica, que acha que a gravidez de uma ministra é motivo de notícia e comentários sarcásticos. Afinal, se ela não é a Virgem Maria, só pode ser a Maria Madalena, prostituta.
Quer temas para posts? Eu dou-lhe: escreva sobre a vez em que, numa entrevista de emprego, o entrevistador me convidou para ir à discoteca com ele no sábado seguinte. Escreva sobre a percentagem de meninas portuguesas que perdem a virgindade de forma forçada, por chantagem emocional dos namorados. Escreva sobre os questionários feitos no ensino superior, onde se lêem coisas fabulosas como "o acto sexual forçado, por parte do namorado, não é violação". Quer escrever sobre mulheres, Sr. Miguel? Então escreva sobre problemas reais. A gravidez da ministra, a ser notícia, é apenas uma boa notícia para a taxa de natalidade portuguesa.
Espero sinceramente que você tenha muitas filhas nesta vida.’
3 comentários :
Quem transformou o "evento" num tema público do qual o executivo poderia retirar dividendos foi a própria Ministra.
essa gaja é maluca e o miguel dá destaque a merdas destas. já agora, quem é que no seu perfeito juízo convida uma peça destas para qualquer coisa.
a carta desta rapariga diz tudo... sobre a própria.
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