• José Pacheco Pereira, O peixe apodrece pela cabeça [hoje no Público]:
- ‘Quem colaborar com este processo está a colaborar numa mentira, a ajudar a esconder que tudo já foi acordado, e se alguma das coisas que já foram acordadas com a troika não avançar, é pelo receio dos seus efeitos eleitorais. Como é que nos podemos surpreender por os "de baixo" - os novos inimigos do Governo, restaurantes, cabeleireiros e oficinas de reparação de automóveis - fugirem ao fisco, se os "de cima" fogem à verdade? Tudo o resto é nevoeiro.
A grande falácia deste "PREC" é pensar que a sociedade, a economia e as empresas podem de repente, feito o "ajustamento", iniciar um arranque glorioso para o crescimento económico e para a melhoria social, quando o que o empobrecimento faz à sociedade é retirar-lhe todo o potencial criativo e força anímica para qualquer reacção que não seja a sobrevivência egoísta e nalguns casos a exploração abusiva da situação em termos próprios. A morte da "classe média", de que CDS e PSD eram no passado os grandes arautos, é a receita melhor para destruir qualquer dinamismo, retirar à sociedade qualquer potencial de crescimento. Podem fazer mil programas de televisão sobre o "pensamento positivo", sobre o "Portugal melhor", premiar em cerimónias televisivas os jovens "empreendedores", "inovadores", "inventivos", que estão apenas a alimentar a ilusão de que qualquer dessas qualidades pode sobreviver numa sociedade que está a ser construída para que eles emigrem se querem ter sucesso, ou vão à falência debaixo do jugo dos impostos e da crise.
Seria, aliás, muito educativo revisitar muitas das iniciativas apresentadas com parangonas televisivas como de "sucesso" e de "futuro" em 2010, 2011, 2012 e ver onde é que elas estão em princípio de 2013. Não estão em lado nenhum porque a sociedade que este "PREC" está a gerar é destrutiva, paroquial, subserviente, sem oportunidades para os bons e cheias de oportunidades para os maus, que as percebem à distância. Parece maniqueísmo? Antes fosse. Mas a responsabilidade é nossa. Edmund Burke escreveu-o: "Tudo o que é necessário para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada". Sempre podem cortar a cabeça ao peixe, deitar o peixe fora e arranjar outro. É difícil, mas não é impossível.’
1 comentário :
Há uma grande verdade aqui: ninguém consegue motivar um povo com medo, ansioso, desconfiado e desmotivado, sem um caminho para o futuro que seja digno, verdadeiro e exequível e humanista.
A motivação será para actos isolados ou colectivos de raiva e violência que darão cartas aos mandantes e justificarão os seus actos.
É nestas alturas que é preciso uma liderança que faça a diferença, que dê o clique. Liderança mais individual ou colectiva.
Como alguém me dizia ontem. "Repara como os homens e mulheres humanistas deste país estão a desaparecer, a adoecer ou a morrer"
Não sou tão pessimista assim. Ainda acredito.
"...quando o que o empobrecimento faz à sociedade é retirar-lhe todo o potencial criativo e força anímica para qualquer reacção que não seja a sobrevivência egoísta e nalguns casos a exploração abusiva da situação em termos próprios"
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