Eduardo Ferro Rodrigues dá hoje uma entrevista ao Sol. Eis algumas passagens:
- - Reitero a pergunta: até que ponto a renegociação tem de incluir um perdão da divida pública?
- A questão é bastante mais complicada de responder do que há um ano. Hoje há uma parte - que julgo muito significativa - da dívida que voltou a instituições financeiras portuguesas e ao BCE. Portanto, tudo o que seja perdões de dívida que não acautelem a rendibilidade do sector financeiro poderá ser um regresso ao passado, a uma situação de quase explosão do sistema. Para haver um perdão de dívida - e isso pode ter de vir a se colocar - isso terá de ser colocado pelos próprios credores como base e elemento fundamental para o próprio pagamento da restante dívida.
(…)
- Portanto, nem o facto de ver Paulo Portas a coordenar a reforma do Estado lhe serve de garantia?
- O facto de o ministro Paulo Portas estar a coordenar essa matéria pelo menos permite que se antecipe que será feito com mais inteligência, mas não quer dizer que seja feito com uma perspectiva mais progressista.
(…)
- O Presidente da República devia ser mais interventivo?
- Tem sido pouco visível. E não sei até que ponto isso significa passividade ou apenas algo de aparente. O que penso é que - e isso vai acontecer ainda com este Presidente vamosprecisar de ter um Governo com uma maioria muito alargada, com uma base social muito alargada. E para isso vai ser preciso um Presidente mais interventivo e actuante do que este Presidente.
2 comentários :
Se ele tivesse essa capacidade interventiva , estavamos safos mas, infelizmente, o homem, para além de medíocre,tem telhados de vidro (na casa da Coelha,na SLN/BPN).
Perdão de dívidas e alijar o fardo. É um tema que deve ser debatido com urgência pela "classe" política, com coragem e frontalidade. Não só relativamente aos Estados sob as patas do capitalismo financeiro internacional, como também às famílias portuguesas. É imperioso encontrar um plano nacional e patriótico que acuda às famílias endividadas que caíram no desemprego. Uma moratória que seja.
Inspirem-se em Sólon e a sua legislação sobre o Perdão de Dívidas, de há mais de 2500 anos.
Também as famílias portuguesas precisam que a "classe" política legisle com vistas a um plano nacional e patriótico de "Perdão de Dívidas", ou coisa parecida, inspirado no "Alijar do Fardo" (Seisachtheia) do legislador Sólon, há mais de 2500 anos.
Sólon afirmou:
"Mas eu, dos objetivos em que reuni
o povo, algum há que deixei de atingir?
Pode testemunhá-lo na justiça do tempo
a mão suprema dos deuses olímpicos,
a melhor, a Terra negra, de quem eu, outrora,
os marcos arranquei, por todo o lado enterrados:
dantes era escrava, agora é livre.
Muitos a Atenas, pátria fundada pelos deuses,
reconduzi, vendidos ora injustamente
ora com justiça. Uns, ao jugo
das dívidas fugiam - e já nem a língua ática
falavam, por tanto andarem errantes;
outros, na própria casa servidão vergonhosa
sofriam, trémulos aos caprichos dos senhores:
eu os tornei livres."
Centenas de milhares de famílias portuguesas vivem sob a ameaça da banca financeira, que se apropria das suas casas e as mantêrm depois escravas ainda das suas dívidas para o resto da vida, lançando ainda na pobreza milhares e milhares de fiadores, na maioria deles seus pais.
É urgente um estudo profundo sobre como acudir a estes portugueses, cujos bens, vendidos em leilão, estão a alimentar a banca e uma nova classe de novos ricos e especuladores.
O sistema partidário português não pode continuar indiferente a esta tragédia, que afecta avós, pais e netos, três gerações de uma assentada.
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