- ‘A cada falhanço nas suas previsões e nos seus resultados, o ministro das Finanças responde sempre da mesma maneira: mais austeridade. Mas já é tempo de parar com isto: este disparatado “padrão de comportamento” de Vitor Gaspar está a destruir a economia e a dar cabo da vida dos portugueses.
A infinita arrogância do ministro das Finanças - que se funda numa cegueira ideológica, travestida de superioridade científica - impede-o de ver a dramática realidade económica e social que está à vista de todos (e que tem sido denunciada até por muitos dos ex-ministros das Finanças da direita). É esse obstinado "estado de negação" que torna Vítor Gaspar totalmente incapaz de ler a situação da economia e de corrigir a trajectória da sua política orçamental. A realidade, porém, não depende tanto da visão de Vítor Gaspar como das consequências da sua política de austeridade "além da ‘troika'". E essas consequências estão bem presentes nos números que o próprio ministro das Finanças apresentou com a frieza de sempre, como se não fosse nada com ele. Vale a pena ver.
Desde que chegou, Vítor Gaspar já apresentou três Documentos de Estratégia Orçamental (em Agosto de 2011, em Abril de 2012 e agora em Abril de 2013). Entre o primeiro e o último, elaborados com um intervalo de menos de dois anos, a previsão de Gaspar para a evolução da economia neste ano de 2013 passou de um crescimento confortável de 1,2% para uma recessão profunda de 2,3%! Quanto à previsão da taxa de desemprego para 2014, disparou dos 12,6% para uns dramáticos 18,5%! E até a dívida pública, cujo máximo inicialmente se previa para este ano, com 106,8%, fechou o ano de 2012 já com 123,6%, prevendo-se agora que alcance os 123,7% no próximo ano. E todo o cuidado é pouco: sendo estas as previsões de Vítor Gaspar, escusado será dizer que o resultado final deverá ser bastante pior.
Perante este quadro de absoluto desastre económico e social, o que Vítor Gaspar veio anunciar ao País foi fiel ao seu conhecido "padrão de comportamento" diante dos maus resultados: mais austeridade. Sempre. Desta vez, no entanto, para além de revogar ostensivamente o Memorando para o Crescimento apresentado na semana anterior pelo desprezado Ministro da Economia, o anúncio de Vítor Gaspar assumiu o tom de uma verdadeira provocação ao País: afinal, em vez dos famosos 4000 milhões de euros que o Governo se propunha cortar até 2015, o Ministro das Finanças quer agora cortar mais de 6500 milhões de euros até 2016!
Decididamente, quando se generalizam os apelos para a adopção de medidas favoráveis ao crescimento e ao emprego, o ministro das Finanças fez questão de desfazer qualquer ilusão que ainda pudesse subsistir no Governo ou fora dele. A sua mensagem aos distraídos foi dura e clara: a espiral recessiva não é um dano colateral da política de austeridade, é uma escolha. É por isso que ninguém, nenhum resultado, nenhuma evidência desviará Vítor Gaspar da sua crença e do seu objectivo de fazer o "ajustamento" da economia portuguesa por via do empobrecimento generalizado do País. E será assim, de facto, enquanto este ministro for ministro. Ou enquanto este Governo for Governo.’
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