segunda-feira, julho 08, 2013

Naftalina de Deus


D. Manuel Clemente, o novo bispo de Lisboa e representante máximo da Igreja Católica portuguesa, tomou posse da pior maneira possível — e contrariando a mensagem do novo Papa dos pobres. No Mosteiro dos Jerónimos, perante uma plateia de que estavam ausentes pobres, desempregados, pensionistas, excluídos sociais e povo em geral, D. Manuel Clemente fez uma homilia para o povo do bairro do Restelo e arredores, que não lhe regateou palmas.

Mas tudo ficou mais às claras quando esse povo aplaudiu efusivamente Cavaco, Passos & Portas, os reconhecidos responsáveis pelo estado em que o país está e protagonistas recentes da mais vergonhosa ópera-bufa do regime democrático. As palmas da naftalina do Restelo — e não do povo de Deus, que está muito distante dos meios palacianos que D. Manuel Clemente frequenta — significaram um suspiro de alívio.

Com a continuação do governo de Passos & Portas (ou vice-versa), apadrinhado por Cavaco, está garantido que serão os mesmos a continuar a suportar os sacrifícios: os malvados funcionários públicos, os pensionistas e reformados pobres que se obstinam a não morrer cedo (como seria seu dever) e esses vis beneficiários do subsídio de desemprego e do rendimento social de inserção. Em contrapartida, continuarão a ser poupados os banqueiros, os empresários especialistas em falências fraudulentas e essa tropa fandanga que se anda a locupletar sem vergonha no sector empresarial do Estado, mesmo quando ele é vendido a retalho aos chineses, brasileiros e angolanos — gente temente a Deus que venera com igual fervor o poder temporal e o poder espiritual.


A cena triste do patriarca a receber palmas em conjunto com Cavaco, Passos & Portas lembra inevitavelmente uma cena já perdida nas brumas do tempo. Após a II Guerra Mundial, Cerejeira, acompanhado dos mais altos dignitários do Estado Novo, incluindo o piedoso Dr. Salazar, inaugurou o Cristo-Rei, manifestando gratidão a Deus por ter poupado Portugal aos horrores da guerra e mandou os presentes ajoelharem-se em respeito ao poder espiritual, representado por ele próprio, e ao poder temporal, representado por Salazar e Tomás.

O discurso, felizmente, não está perdido. Pretende D. Manuel Clemente retomar essa tradição ou quer alinhar com o bispo de Roma, naquilo que parece ser o caminho da simplicidade e da defesa dos pobres?

Se o seu caminho é o segundo, talvez se deva abster de declarações infelizes a favor da legitimidade democrática do Governo. Para isso, já nos basta o manequim da Rua Augusta.

11 comentários :

Anónimo disse...

http://internacional.elpais.com/internacional/2013/07/07/actualidad/1373231940_648604.html

Bruselas prepara una segunda línea de ayuda preventiva para Portugal

Anónimo disse...

Houve comício no mosteiro.

Estavam convocados todos os assalariados deste Governo.

Se a Igreja quer fazer política...terá de receber também um tratamento politico.

Tal como as suas várias instituições que parecem querer tomar conta dos centros de decisão nacional a coberto da batina universitária católica.

Sou católico. Mas desconfio muito quando vejo a igreja metida em interesses, politiquices, negociatas e outras actividades de natureza afim ao crime

Anónimo disse...

Fanqueiros. A rua é a dos Fanqueiros.

Anónimo disse...

"Oremos senhor".
Que dirá o Papa que ainda ontem criticava a ostentação de carros por padres e freiras?

Regressamos à Religião de Estado?!

Foi deprimente ver aquela seita de politicos, com alguns militares à mistura, a confundir funções de Estado com estados de fé ou de espírito.

E a PGR não pode investigar se houve crime?

Saludos.
J:

Anónimo disse...

Na verdade é da Rua dos Fanqueiro.!!!
A tal rua onde só se vendia fancaria : "Comércio de fanqueiros; trabalho grosseiro, mal acabado."
A rua Augusta éfina demais para tal manequim.

Anónimo disse...

O D. Manuel Clemente é um homem decente. O que a direita lhe fez é imperdoável. Mas também mostra que esta direita não mudou nada no último século, continua como sempre e hoje só consegue mobilizar o espaço público dentro de igrejas. Maior isolamento não é possível conceber.

Anónimo disse...

Foi Clemente demais com esta gente...não merece qualquer clemência

Anónimo disse...

O batata e a família batatoon tiveram direito a cadeirões especiais porquê?

Ou será que este Clemente os homens não são todos iguais perante Deus...

Anónimo disse...

"No Mosteiro dos Jerónimos, perante uma plateia de que estavam ausentes pobres, desempregados, pensionistas, excluídos sociais e povo em geral..."

Fizeram entrevistas ou aplicaram questionários à porta da igreja para poderem dizer que entre os cristãos que participaram na Eucaristia não havia pobres nem desempregados nem pensionistas...? Que estranho, vi lá alguns.

Anónimo disse...

"A cena triste do patriarca a receber palmas em conjunto com Cavaco, Passos & Portas lembra inevitavelmente uma cena já perdida nas brumas do tempo".

Mais uma frase escrita por quem não deve ter estado presente. As palmas aos políticos aconteceram à entrada destes no mosteiro; D. Manuel estava então na sacristia. O patriarca ser aplaudido na sua entronização é normal, faz parte da festa, do ritual, nada tem que ver com outras manifestações.

Anónimo disse...

Quem conhece D. Manuel Clemente sabe que ele não defende partidos cristãos, mas antes que os cristãos estejam envolvidos na sociedade, acolhendo todos, mesmo os que pensam e agem de modo diferente. Seria legítimo que o patriarca tivesse tido um discurso de ataque ou uma postura de desprezo em vez de a todos acolher, não só de acordo com o convite evangélico mas também com a cordialidade que o caracteriza?