sábado, agosto 31, 2013

Uma ilusão chamada “velho PSD”

Expresso, 24 de Agosto de  2013

Em vésperas do 25 de Abril, um grupo de políticos afastou-se apressadamente da Acção Nacional Popular para poder reaparecer após a implantação do regime democrático sob uma nova veste. A agitação posterior revelou que a designação escolhida — Partido Popular Democrático (PPD) — não era a mais apelativa para se alçar ao poder. Por isso, a formação recém-criada foi então rebaptizada (com um erro ortográfico para todo o sempre): Partido Social Democrata (em lugar de Democrático).

Este grupo de políticos e profissionais liberais, que se uniu para representar a finança e a grande indústria, atraiu a si as forças vivas recauchutadas do Estado Novo e as camadas da população atemorizadas pelo inócuo preâmbulo da Constituição (“abrir caminho para uma sociedade socialista”): catedráticos e analfabetos, patos bravos e publicistas, chupistas do Estado e cantores-pimba, negociantes de ocasião e autoridades locais.

É esta amálgama quase obscena que permite ao PSD aparecer com sucessivas máscaras — até como pregoeiro da “social-democracia”. A verdade é que ter ilusões sobre a sua natureza só conduz a deixar a esquerda desarmada. Vê-se com alguma frequência figuras proeminentes da oposição a fazer apelos ao “velho PSD” — como o fez João Ribeiro, porta-voz do PS, numa entrevista ao Expresso na última semana (na resposta reproduzida na imagem acima).

Acontece que o “velho PSD” anda por aí em peso. Salvo a circunstância de as suas figuras se gabarem de ser mais competentes do que estarolas de Passos Coelho, que alterações de política propõem eles? Nenhumas.

Com efeito, na “Universidade” de Verão do PSD, Marcelo subiu ao palanque para serenar as hostes após o chumbo do Tribunal Constitucional, garantindo que se há-de arranjar forma de despedir os trabalhadores do Estado. Também na “Universidade” de Verão do PSD, Alexandre Relvas, o afamado Mourinho de Cavaco, atiçou, perante o olhar incrédulo dos jotinhas, os filhos contra os pais, apelando a uma total desregulação do mercado de trabalho: “é pais a viverem à conta dos filhos” [sic], disse o protegido de Cavaco. No mesmo local, Leonor Beleza retomou o apelo do Dr. Relvas à emigração dos jovens. Santana Lopes defendeu a necessidade de uma revisão constitucional para o país poder ter uma “constituição que seja neutra, que seja isenta e independente” [sic], tema agarrado por Paulo Rangel para sustentar que a Constituição tem uma “visão demasiado conservadora”.

Onde está o “outro” PSD?

8 comentários :

james disse...



É tudo farinha do mesmo saco.

Excelente post.

altaia disse...

Acho uma humilhação para este governo M.r.s sugerir a aplicação da lei Sócrates para para a mobilidade já que a deles não presta.

porca miséria

Zé da Póvoa disse...

Curioso que Leonor Beleza venha incentivar os jóvens a emigrar na senda do já defendido pelo rapazola e mais alguns comparsas.
Porque é que, em devido tempo, não deu esse conselho ao seu filho, evitando os problemas que ele veio a ter com a justiça.

Anónimo disse...

Governar assim é fácil!Sem Constituição e , de preferência, sem Portugueses que incomodam!

Anónimo disse...

Ora nem mais!

HY disse...

Parece-me profundamente errada e injusta a consideração inicial sobre o papel e as intenções dos membros da ala liberal antes do 25 Abril. Alguns desses deputados foram pilares essenciais da construção da democracia no pós-25 Abril. Não é preciso recorrer a este tipo de processos revisionistas da história com perfume estalinista para criticar seriamente a orientação política do PSD e do governo.

HY disse...

Lamento que o comentário que enviei hoje de manhã hoje de manhã não tenha sido publicado. Nele discordava frontalmente da interpretação do papel e da intenções atribuídos aos deputados da chamada "ala liberal". Não apoio semelhante tipo de revisionismos históricos. E não creio que tal seja necessário para se poder criticar severamente a orientação política do governo e do PSD actual.

ALBINO disse...

Que dizer de um artigo de opinião (Camilo Castelo Branco tratava desta praga à sua moda: à cacetada em forma de escrito) que começa por dizer que "Democrata" é um erro ortográfico porque supõe dever estar escrito "democrático". Pobre país este que se alimenta da burrice e ignorância de autores de artigo de opinião que nem sabem o que é ortografia. Léxico, sintaxe... melhor: dedique-se a estudar no lugar de asneiras deste calibre. É que acaba por borrar a pintura de douto sabedor, pese algumas pistas de análise com interesse que avança, porque estraga tudo com ignorância tamanha.