sexta-feira, outubro 11, 2013

Os cornões de Machete

• Fernanda Câncio, Os cornões de Machete:
    ‘Há muito muito tempo, num país muito muito distante, um ministro ousou fazer, no Parlamento, um gesto muito muito pateta. O ultraje foi tal que pouco depois o ministro apresentava a demissão e o PM desculpas pelo ocorrido, enquanto o presidente da Assembleia da República, do partido do Governo, assegurava, cenho franzido: "Aquilo que se passou não se podia ter passado." Garante do funcionamento regular das instituições e farol moral da nação, o então PR pontificava: "Pouco acrescentaria em relação à indignação que foi manifestada na AR por parte de todos os grupos parlamentares e por parte do senhor presidente da AR, o que de alguma forma reflete a gravidade daquilo que aconteceu."

    Felizmente, o tal Governo foi, dois anos após o horrífico momento, substituído, sendo instituída uma nova ordem ética. Nesta, nunca há motivo para pedir desculpa, quanto mais para demissão (quem porventura se demita fá-lo por ética a mais: não aguenta "a podridão"). Por exemplo, se um ministro dá uma entrevista à rádio oficial de outro país em que aceita falar sobre processos judiciais "contra altas figuras do Estado" desse país, garantindo consistirem esses processos (que, adverte, pesaroso, "não está na nossa mão evitar" e pelos quais "pedimos diplomaticamente desculpa"), em "um problema puramente técnico de preenchimento de alguns documentos" que, explica, é preciso preencher quando há movimentação de capitais - "lícitas", apressa-se a frisar -, "nada de grave" há a assinalar, segundo o PM, ou que leve o atual PR dar nota de qualquer indignação. Nem o facto de os processos em causa estarem em segredo de justiça e o ministro se aprestar a revelar aquilo em que consistem (cometendo o crime de violação do segredo de justiça, se o que diz é verdade, ou mentindo, se não é) e em garantir que não têm "nenhum grau de gravidade". Tão-pouco que o ministro assevere terem sido "pedidas" "informações" à PGR para "perceber o que é que aconteceu do lado do nosso Ministério Público", as quais "a senhora procuradora-geral deu", enquanto a procuradora garante nada lhe ter sido pedido e nada ter dito, chamando, portanto, mentiroso ao ministro (ou o ministro a ela, é escolher) - que por sua vez nega o pedido e o que disse.’

4 comentários :

Anónimo disse...

Acabo de ver a sondagem do Expresso...Depois das autárquicas, o PS desce... Interpretação pessoal: os portugueses sinalizam que querem o Seguro com sapatos de corda e outro leader credível. A continuar assim, o PS será tão responsável, quanto o governo, pela destruição do país.
Enquanto houver Seguro não voto PS !

Anónimo disse...

Já somos dois entre muitos mais.

Uma «Grândola» para o Seguro, já, disse...



Muitos, muitos mais!...

Anónimo disse...

A questão central é apenas uma, quem mente.